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Genshō Rōshi: Quando nós dizemos “Eu tomo refúgio no Buddha”, queremos dizer: eu tomo refúgio num ideal, na possibilidade de um homem se elevar por seus próprios meios, como Buddha fez, porque ele já morreu, já não existe mais. E nós não o adoramos, nem veneramos como uma divindade, de modo absoluto, nós apenas nos lembramos dele e fazemos reverências para ele lembrando do grande professor que ele foi; mas um homem como nós. E por isso contamos histórias até que podem chocar, do tipo: Ah! Buddha morreu porque ficou mal, e teve uma grande perda de líquidos através dos intestinos; ele teve uma diarreia, e ele morreu assim, morreu desidratado porque ele teve perda de sangue. Essa é uma morte muito humana, não é? Muito comum, deitado, rodeado por seus discípulos, mas pedindo água porque estava com sede, como um homem. Tomamos refúgio no Buddha como um ideal, um homem pode se levantar das suas ilusões por seus próprios meios, e pode se tornar um professor respeitado, um homem querido por suas boas ações.
Tomamos refúgio no Dharma, porque o Dharma é o ensinamento. Ensinamento que diz: não tome refúgio nas coisas erradas, não se apegue a coisas como se elas fossem capazes de lhe proporcionar felicidade. Nenhum apego vai resolver o problema. O amor não é apego se você tem um belo amor pelo seu filho, você quer a felicidade dele, mas não fica cerceando sua vida, ou o impedindo de que tenha seus amores, ou que siga o curso da sua vida porque você o quer possessivamente perto de você, esmagadoramente, como algumas pessoas fazem. E assim, ao tentar possuir e abafar as pessoas, fazem com que as pessoas queiram fugir delas, então isso não é amor, isso é apego.
E o terceiro voto de refúgio, nós dizemos: eu tomo refúgio na comunidade, porque a comunidade dos amigos, Sangha, como dizemos no budismo, a comunidade dos praticantes, são pessoas com os mesmos objetivos. Mas nós os ajudamos, eles nos ajudam, e não adianta você querer possuí-los, ou apegar-se a eles, ou agarrar-se a eles. Como fazemos bem diferentemente de qualquer seita, na nossa organização Daissen, por exemplo, é fácil você se propor a chegar, vai ser bem recebido, mas vai se pedir que você pratique meditação, isso significa sentar-se, esforçar-se, então isso já não é fácil. Chegar é fácil, praticar é difícil. E se você desistir e for embora, não tem problema nenhum. Ninguém vai lhe recriminar, e nada. Nem sequer vai atrás de você e dizer: volte! Sentimos falta de você! Não, nós não fazemos isso. Porque queremos que as pessoas se sintam absolutamente livres para ir e vir sem serem pressionadas, porque não estamos apegados a elas, mas sim, as amamos, queremos o seu bem, queremos gerar benefício, e o apego traria sofrimento, sentimentos de aprisionamento, ou de dever; nós não queremos criar isso. Queremos, como sempre aconteceu com o Budismo, que o dedo do Budismo aponte para a liberdade.
Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como superar o apego”, do canal Sobre Budismo, em 28 de junho de 2022.