Pergunta: Eu poderia complementar o que senhor falou sobre os alucinógenos? Eu imaginei que se soubéssemos o que acontece no cérebro no momento que se atinge a iluminação, em tese, poderíamos gerar a iluminação artificialmente. Mas também se é uma questão de consciência, no sentido de estar separado do cérebro, talvez não seja assim…estou tentando complementar a pergunta.
Monge Genshô – Não sei. Pode ser que no futuro tenhamos uma espécie de pílula, aqui está Satori B, não precisa de sesshin. Não tenho a menor idéia a respeito, acredito que agora temos um método; se podem surgir outros métodos, é uma discussão futura. Pode ser que sim, desde que seja possível anular toda a ilusão e partir para uma enorme clareza de consciência, através um estímulo elétrico, mas a grande questão é: você será proprietário dessa experiência? As drogas que existem hoje, como por exemplo o crack, provoca durante alguns segundos, um derrame enorme de dopamina no cérebro gerando uma sensação de felicidade e bem estar inigualáveis. Depois de experimentar essa sensação, a pessoa quer sempre voltar para lá, porque é muito poderoso. Se usarmos uma escala, comer provoca um derrame de dopamina equivalente a cinquenta. Sexo produz noventa. Não é de se admirar que as pessoas gostem de comer e fazer sexo. Mas o crack produz novecentos. Logo, a pessoa não come mais, não faz mais sexo, não trabalha, não faz mais nada, ela só fuma até morrer. Se fossemos capazes de, por meios artificiais provocar a sensação de iluminação, talvez tivéssemos um efeito completamente indesejado.
As histórias dos mestres e suas experiências de iluminação são muitas, como por exemplo, depois da primeira experiência, passar uma semana inteira rindo, sempre pulando de alegria. Ninguém que tenha essa experiência deseja retornar para a ilusão. Mas talvez essa experiência só seja válida através de grande esforço, pois quando ela é gratuita, acontecem os fenômenos que acontecem quando no uso de drogas. Não há como duvidar que os quinze segundos depois de fumar crack são maravilhosos, mas você nunca mais retornará aos primeiros quinze segundos, por que cada repetição da droga é apenas uma tentativa de voltar à primeira experiência, a intensidade da experiência cai à medida que o cérebro não consegue manter a quantidade de dopamina. O resultado é a destruição física. Pode ser que existam meios mais fáceis de se atingir o esclarecimento, o despertar, mas não conhecemos nada seguro. Tenho sérias dúvidas de que a experiência gratuita possa significar sabedoria.
Pergunta: Se não estou enganado, a Gnose tem uma droga que ajuda, ela na verdade não leva ao despertar, serviria mais para diminuir o controle exercido pela mente?
Monge Genshô – Desde as experiências de Aldous Huxley em seu livro “As Portas da Percepção” há quase cinquenta anos, especula-se que as drogas alucinógenas provocariam uma abertura da consciência. Mas tudo que nós vimos de lá para cá foi desastre. Fico então, com a regra de Buda, de dois mil e seiscentos anos atrás: os Monges devem assumir a regra de não usar nenhuma substância que altere a consciência. Buda, através da experiência pessoal, desencorajou inclusive o ascetismo radical, o jejum radical até prestes a morrer ou coisas que provoquem alterações físicas. Ele desencorajou tudo porque ele experimentou e concluiu que não levava ao esclarecimento, por isso sua proposta era de moderação, “madhyamika” – o caminho do meio. Ele não poderia ser mais taxativo ao dizer que de forma alguma, absolutamente nenhum meio artificial faz parte do caminho Budista. Saikawa Roshi me disse uma vez uma frase, “não há caminho fácil para a iluminação”. Ou seja, nem procure. Aqui na nossa Sangha, se alguém desejar um caminho como esse, deve se afastar. Porque não pertence ao caminho budista da nossa comunidade.