Nos primeiros passos da prática meditativa damos muito valor aquele dentro de nós que observa os pensamentos irem e virem, aquele dentro de nós que observa os sons e isso cria um reforço da nossa noção de estarmos aqui e o universo estar fora, de haver uma realidade que observamos. Para irmos mais adiante precisamos abdicar do observador, o que já é uma prática de alto nível, algumas instruções, de outras escolas, podem não chegar a tanto, mas para o zen isso é bem importante, porque só abdicando do observador podemos chegar a um samadhi, em que entre nós e todas as coisas não haja distância alguma, em que nós e tudo estejamos mergulhados numa unicidade, numa compreensão da nossa participação completa da nossa interdependência absoluta, a um ponto tal que entre nós e todo o restante não haja um fio de cabelo de separação.
Assim, comece sua prática observando, assim está bem. Mas mantenha em mente que você tem que descartar esse observador e sentar-se sem essa preocupação de perceber, observar, sequer de racionalizar e explicar com palavras. Descarte progressivamente cada uma dessas coisas até o ponto de apenas sentar-se e que se possa dizer que mais nada está acontecendo. Isso é o que significa shikantaza, apenas sentar-se. Não exercer nenhuma atividade volitiva, não colocar sua vontade, não estar aqui observando o que está lá fora.
Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, dezembro de 2021.