Pergunta – Mas ao sentar para meditar, a gente senta sem um objetivo de responder à essas perguntas, a própria pratica vai trazer essas respostas,. Eu não pratico tanto quanto deveria, e percebo que a gente senta e permanece a mesma coisa, os pensamentos vem e passam, alguns momentos parece que não pensa nada daí vem aquela coisa – Óh, consegui não pensar em nada – e aí pronto, já voltou tudo, mas é isso mesmo, é isso que vai acontecendo? O que eu percebi com o tempo, é que antes eu sentava e ficava agitada, louca que terminasse logo, agora eu sento e sinto já até um certo prazer, um pensamento de que é bom. Eu sinto que o grupo é muito importante, em casa parece que é uma mentira as vezes…É isso mesmo, é assim mesmo?
Monge Genshô – Está certo. Porem eu diria que sentar tentando não pensar em nada é tentar alcançar algo não real, afinal estar consciente do momento presente é uma forma de pensamento, porem sem elaborações. De modo que o praticante do Zen em seus estágios iniciais deve sentar apenas tentando não seguir os pensamentos, deixar que os pensamentos passem, e há momentos em que tudo ficou tranqüilo simplesmente porque ficou tranqüilo, mas para não festejar isso é necessário não ter esse objetivo. Então como apontei no inicio, o erro aí é o objetivo. Por isso essa técnica de sentar no Soto Zen é chamada da Shikantaza – apenas sentar – não acalente um objetivo, não tente alcançar nada, isso é bastante importante. Se você medita, insights surgem. Mas esses entendimentos, também não podem ser o objetivo, eles surgem naturalmente, coisas que nós não entendíamos e passamos a entender.
Quando a gente vê os praticantes é fácil perceber como são os alunos, é fácil entender o que está acontecendo com o treinamento deles pela maneira como eles perguntam. Primeiro querem manifestar opiniões, depois fazem perguntas mais difíceis, depois não fazem mais perguntas, quando deixam de fazer perguntas a gente sabe que o aluno passou um determinado ponto. É como se as questões tivessem se dissolvido. Quando ele chega na frente do professor, mesmo que ele pense – Acho que vou perguntar isso – ele pensa – Não, não é preciso – ele sente que não tem sentido fazer a pergunta, então essa já é uma outra fase. Mas é lógico que isso não pode ser fingido, então quem sente necessidade de fazer perguntas, faz perguntas, e o professor responde. É necessário esse contato, mas sem a prática não acontece nada.
É necessário ter esforço, mas esforçar-se também não leva a nada. Se a gente pratica começa a entender, se eu me esforço não funciona, se eu não me esforçar não vou a lugar nenhum. Quando a gente começa a sentir prazer em ficar sentado já foi um grande progresso. Porque o pior estado é o daquela pessoa que não consegue parar, um estado muito agitado, muito turbulento. Na realidade um mundo infernal.