Pergunta – Por e-mail recebo alguns trechos de textos budistas e gostei muito do último que dizia que “a infelicidade, depois que você começa a praticar o Dharma, é um indicador da evolução do seu caminho”. Gostaria que o senhor esclarecesse isto.
Monge Genshô – O Dharma, ao invés de dar algum consolo, retira da pessoa todos seus apoios, de tudo o que você pretende agarrar-se, deuses, anjos, etc.., tudo isso o Dharma tira. Muitas vezes as pessoas, ao viver esta desconstrução da fé, ficam muito perdidas e há um choque. Eu acho este choque muito bom, mas sei que carrega sofrimento. “Tudo que eu tinha o senhor tirou”. Esta é a tarefa do professor no Zen. Caso alguém não se sinta confortável com isso, deve talvez procurar um outro lugar mais confortável.
Sei que isto não é tranquilizador, mas sei que despertar e acordar das ilusões é muito feliz. Sei que isto não é fácil e exige grande esforço. Então, no início pode ser assim, infeliz. Mas pode não ser. Você pode chegar aqui, ouvir todas essas barbaridades que eu disse, e sentir uma sensação de grande alívio. Eu tive isso quando ouvi um Monge Zen a primeira vez.
Pergunta – Fui educada dentro de uma religião e o Zen para mim foi um grande alívio. Pensar em pecado, juízo final, purgatório, traz uma sensação de uma saga sem fim.
Monge Genshô – O conceito de pecado não interessa para o budismo. Na realidade nossas ações tem consequências. E nossa vida baseia-se nisso. Você tem que tentar fazer o bem, e isto vai automaticamente lhe trazer felicidade. Não há ninguém lá fora nos julgando não. Mas os resultados das nossas ações são muito mais implacáveis do que se houvesse alguém para nos perdoar. Se fizermos algo errado, teremos que consertar. É assim que o budismo pensa. Despertar das ilusões.
Temos um método, com raciocínios claros e não estamos dispostos a sermos enganados. Não estamos confiando em crenças. Um monge não tem a verdade para vender e ninguém precisa acreditar nele. Desejo que as pessoas tenham grande dúvida e nunca percam sua independência mental. Por isso, o trabalho do professor do Zen é difícil, pois os alunos sempre estão trazendo perguntas, dúvidas. E isto é muito bom, significa ter alunos de verdade. Quando alguém apenas tem fé e acredita sem questionar, acho que não passa de um tolo.