Mundos diferentes | Monge Genshô

Mundos diferentes | Monge Genshô

Praticante: (…) Também me identifico com o que está dizendo. Quando mudei de Florianópolis para cá foi um choque, mesmo tendo uma mamãe que é maravilhosa, uma família que me apoia, ainda assim acho que só não entrei em depressão quando vim morar aqui porque trabalhei bastante a mente. No meu trabalho as pessoas têm um pensamento muito fechado, a maioria está lá por politicagem e é difícil até mesmo conversar. Outro dia fomos tomar café e os comentários são maldosos, o discurso é agressivo, as músicas são baixaria, acho muito difícil manter o diálogo e eles também comigo. Se tento dizer algo fico como a cafona ou a chata. Tenho ficado muito na minha, quieta.

 Monge Genshō: Vamos falar um pouco sobre esses aspectos, porque eu sei de tudo o que vocês estão falando. Por exemplo, 50 anos atrás eu estava no exército, fui oficial e até hoje tem uma turma que se reúne. No ano passado tivemos a reunião de 50 anos e fui, porque são meus amigos, vivemos momentos juntos e temos uma ligação.

Acontece que vivemos em mundos muito diferentes, eles não sabem que me tornei monge, alguns dizem que ouviram em algum lugar algo sobre eu ser monge budista e assim podem até ficar sabendo o que aconteceu comigo. Mas não falo, se perguntarem apenas confirmo e não fico falando sobre, porque isso não é importante. Importante é a nossa confraternização aqui agora. Então é claro que você vai perder comunicações, mas por outro lado existe uma quantidade cada vez maior de pessoas que me escrevem perguntando sobre budismo, dizendo que assistem vídeos na internet e começam a acontecer coisas estranhas.

Um dia eu estava no restaurante e um homem me abordou dizendo: “o senhor é um monge budista, outro dia eu estava na Espanha e assisti um vídeo seu”. Em outra ocasião me mandaram uma conferência, um TED, em que um médico psiquiatra falava que tinha entrado em depressão, mas que ele tinha descoberto um blog chamado O Pico da Montanha, do Monge Genshō, e contou como a partir disso conseguiu sair do problema que tinha. Não é incrível?

Todas essas coisas acabam sendo compensadoras. Existe uma quantidade de pessoas que acabam, por conta das ações que tive pelos votos que me comprometi, retornando os resultados deste trabalho que fiz de uma forma muito amorosa.

Eu tenho aluno na Dinamarca, que começou a praticar aqui e depois foi para lá, e também uma aluna Monja que foi para o Japão e casou por lá, com todos converso. Então a fase de solidão, de se sentir distante das pessoas, como se não tivesse com quem conversar acabou passando para mim porque acessei uma quantidade grande de pessoas com quem me conectei. No fundo essas pessoas são a Sangha budista, são as pessoas que praticam e entre elas há pessoas num nível muito alto, num nível muito bom, de modo que é um verdadeiro privilégio encontrá-las.

É frequente que as pessoas digam: “eu nunca pude falar essas coisas para ninguém, porque ninguém entendia e eu achava que eu era do contra”. O líder de Francisco Beltrão, professor Hōsei, que é professor na Universidade, disse uma vez que desde criança sentia que não podia falar porque achavam que ele era louco, mas de repente ele se viu num ambiente em que ele podia falar, que as pessoas iriam compreender.

A questão da música, isso é muito evidente para mim também. Quando jovem eu tocava violino, fui criado numa casa assim e até hoje ao levantar de manhã coloco para tocar esse tipo de música. Então você pode criar a sua volta um determinado clima ou ambiente, mas tem uma outra lição que está no 10º passo do boi.

Depois de ter subido num nível altíssimo o 10º passo é representado por um homem de camisa aberta ao peito e uma garrafa de vinho nas costas, que ele carrega para beber com os outros homens. Ele entra no mercado e o verso diz: “junto aos homens vulgares ele fala vulgaridades, mas seus a seus passos árvores secas florescem”. (estala os dedos)

Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Rio do Sul/SC, 2019.