Pergunta: A analogia do redemoinho parece que isenta da responsabilidade de cada um…
Monge Genshô: Analogias têm limites. Uma analogia é boa até certo grau. Se nós perguntarmos de onde vêm as diferenças de temperatura, o que gerou o vento, de onde vem ele? Todos os eventos têm causas pregressas. Não há um evento que possamos olhar e dizer que não há causa anterior. E esta causa é isso. Nós somos responsáveis pelo movimento que faz com que permaneça existindo o redemoinho. Nós geramos um movimento pela nossa própria existência que nos sustenta carmicamente, e que faz com que este carma se manifeste novamente. E foi isso o que aconteceu no passado: eu gerei um movimento anterior que me fez nascer nestas condições, com este tipo de corpo, aqui, neste lugar. Havia impulsos pregressos que fizeram com que eu existisse agora, e se eu continuo gerando movimento através das minhas ações, pensamentos, palavras, este movimento, que é o carma, que são os impulsos cármicos, manifestar-se-ão numa próxima existência com as mesmas características. Então, tendemos a repetir vidas, assim como nesta vida tendemos a repetir o mesmo tipo de erro. Vamos lá e cometemos um erro. Depois cometemos de novo o mesmo erro. Aí nos perguntam: “mas por que é que você faz isso?” E nós dizemos: “não sei, eu sou assim, esse sou eu”.
O Budismo não aceita bem isso, porque você pode mudar o seu carma. Então, esse é você, mas você pode mudar. Você pode mudar a sua maneira de agir, suas palavras, seus pensamentos, sua mente, suas ações e mudar o carma, e isso terá repercussões. Agora, se você chegar ao ponto de um Buda, você enfraquecerá tanto o seu movimento cármico que não há energia para retornar para cá.
Para o Budismo, libertação é sair daqui. É um passaporte para um outro mundo, de outra categoria, como os brasileiros querem hoje, um passaporte para ir morar na Noruega.
Nós temos condições de mudar nosso futuro, e ser Buda é mudar isso radicalmente. Mas quem não consegue pode mudar bastante as próximas manifestações e as condições das próximas manifestações. Aliás, alguma coisa vocês já fizeram para estar aqui. Tem que existir alguma marca cármica que os fez vir aqui e sofrer sentados defronte à parede, voltarem para cá e ouvir este tipo de ensinamento. Para ser atraído para o Zen é necessário ter uma marca cármica anterior. Não é à toa que as coisas acontecem. Nós provocamos. Alguma coisa trouxe cada um de vocês aqui. Alguns retornarão, outros não. Depende da força da marca cármica. Se não retorna, ao menos ficou uma marca cármica. Por isso nós não dizemos nada se a pessoa volta ou não volta. Não tem importância. Ninguém liga para vocês e diz: venham à Sangha. Ninguém diz isso.