Monge Tokuda, hoje Igarashi Roshi, foi quem me apresentou o Dharma 40 anos atrás, realizou extenso trabalho de difusão no Brasil fundando numerosos centros. Todos nós que o conhecemos nestes tempos guardamos enorme gratidão por seu ensinamento. Abaixo um trecho de palestra sua que mostra sua abordagem integradora do ocidente com o oriente:
“Nós precisamos mergulhar para nos encontrarmos conosco mesmo, naquela noite escura do espírito. Quando uma pessoa quer ter aquela experiência religiosa, ela precisa ter uma preparação. Rezar, afastar-se dos demais e começar a meditar em silêncio. Dentro de qualquer religião nós podemos encontrar aquele silêncio bem profundo, através deste silêncio é que começamos a nos preparar para uma purificação, para poder chegar até aquele estado místico. Como disse São João da Cruz: a noite dos sentidos, a noite do espírito, a noite da alma. Através desta viagem interna começamos a nos afastar do mundo exterior e começamos a trabalhar sobre o mundo interior, mergulhando, mergulhando dentro da nossa subconsciência, da inconsciência. Quando chegar ao fundo desta escuridão, há aquela união com Deus, com o amor. Para esta experiência, a escola Zen coloca uma palavra, a Iluminação, o satori.
Este estado, um mestre o expressou da seguinte maneira: numa noite escura, quando escuto a voz do corvo sem cantar, tenho saudades do meu pai antes que eu tivesse nascido. Este verso mostra aquele encontro no fundo com o verdadeiro eu, a união com Deus. Numa noite escura, totalmente escura, não dá para ver nada, escuto a voz do corvo sem que este cante. O corvo é um pássaro preto, dentro da escuridão não se vê nada e ainda por cima, ele está sem cantar. E quando escuto a voz do corvo sem que ele cante, tenho saudades do meu pai antes que eu tivesse nascido. Pai é masculino, não tem aquela força de fazer nascer, só a mulher é que pode fazer isto. Mas quando escuto a voz do corvo sem que este cante, tenho saudades do meu pai. Esta experiência é muito especial, é uma coisa sagrada, uma coisa para nós seres humanos.
Nos discursos de grandes místicos cristãos, podemos encontrar vários tipos de expressões parecidas. Eles falam sobre essa dificuldade de expressão: inefabilidade, difícil de expressar com palavras. Mas quando há aquela experiência, aquela felicidade, aquela alegria, a pessoa não pode manter-se calada, tem que procurar transmitir aquilo para os outros. O estado do êxtase, a dificuldade de expressão é momentânea, mas é muito forte e muito marcante, e, mesmo assim, os sábios não ficaram calados e sempre começaram a falar para outras pessoas; felizmente isto foi transmitido até hoje através de seus sermões e atos. ( Trecho de palestra de Monge Tokuda)”