Pergunta – O isolamento, como o do eremita ou em monastérios, não seriam então ato de bodhisattvas?
Monge Genshô – Retirar-se do mundo torna as coisas mais fáceis e é comum uma pergunta entre esse tipo de praticantes que é: “Será que ainda tenho os desejos e apegos”? Como ele está afastado do mundo não existe a oportunidade destes sentimentos surgirem. Há a anedota do eremita que certo de sua libertação desceu até a cidade, na praça do mercado um homem lhe pisou o pé o que o deixou furioso, no mesmo instante percebeu que havia apenas se isolado, não havia mudado sua mente.
Pergunta – Quando fazemos retiro, o ambiente que estamos vivendo faz surgir um sentimento de pureza muito grande que não permite que surjam esses tipo de sentimentos, digamos, mundanos.
Monge Genshô – Exatamente, como não existe inclusive a comunicação em razão do voto de silêncio, tudo vai desaparecendo, o desejo sexual, a gula, os atritos, mas isso é um mundo criado para o retiro, é uma vida artificial. Isto não quer dizer que um eremita não possa ser um bodhisattva.
Pergunta – O que o senhor entende por um modo de vida correto?
Monge Genshô – É um modo de vida que não cause sofrimento aos outros seres. Uma profissão que não cause destruição e sofrimento. Profissões como caçador ou magarefe não podem em geral ser consideradas modo de vida corretos. Um modo de vida que ajude os outros seres é um modo de vida correto e que não seja um impeditivo à iluminação.
Pergunta – Esse era o sentido de minha pergunta, trazendo as escrituras para os dias atuais, eu que trabalho na UFSC, não me sentiria à vontade desenvolvendo um projeto para uma indústria química, por exemplo, que causa em geral, muitos estragos à natureza e consequentemente à todos os seres humanos.
Monge Genshô – Você é que deve decidir. Não tenho uma resposta pronta para resolver essa questão para você. Pode ser que você realize um grande projeto que muda a visão e o modo dessa empresa atuar. Quando Oppenheimer ajudou a desenvolver a bomba atômica, a idéia era de que fossem sacrificados talvez cem mil japoneses e o Japão se rendesse, poupando a vida de milhões de soldados americanos e mais alguns milhões de soldados japoneses. Tendo isso em mente, a bomba parecia algo bom. Depois de jogada a bomba, Oppenheimer pediu demissão. Pairava sempre a dúvida da real necessidade do uso da bomba desta forma, por exemplo, poderiam ter feito uma demonstração do potencial da bomba evitando que pessoas inocentes fossem mortas.
Outro fato que ocorreu após isso, foi uma corrida dos países para construir suas próprias bombas. Você teria que se colocar no lugar de Oppenheimer e se questionar sobre várias coisas, por exemplo, e se a Alemanha tivesse desenvolvido a bomba antes dos americanos? É muito difícil de responder, ou melhor, parece fácil dar as respostas, pois quando se está de fora, tudo parece mais simples. Mas é preciso conhecer todas as variáveis. Você, dentro na universidade, desenvolvendo seus projetos terá que pensar o que fazer e mesmo assim, você nunca terá certeza absoluta que sua decisão foi acertada.