É comum as pessoas me escreverem quando começam a praticar dizendo estarem perdidas e sentindo um grande desconforto. Outro dia recebi um email em que a pessoa dizia ter um vazio dentro de si que não sabia como preencher. O que acontece é que o Budismo é um método que começa com uma desconstrução completa daquilo que as pessoas costumam usar como bengala ou apoio. Quando começamos a ensinar o Dharma, as pessoas perdem seus referênciais tais como: “A quem pedirei algo? Quem pode me ajudar, Buda? Existem anjos ou seres celestiais que possam me ajudar?” A mensagem do Zen é que não há ninguém lá fora para quem você possa pedir ajuda, nem à Buda, que foi um homem com nós.
Outras escolas Budistas são mais piedosas e dão ao praticante algo a que se agarrar, como por exemplo, o Bodhisattva da Compaixão ou Buda Amida. Muito embora se formos fundo no estudo destas escolas, veremos que esses seres não são exatamente alguém lá fora. Isso é muito bonito no sentido de existir uma fé e este processo é bastante consolador. Mas o Zen não é consolador e é chamado de “O Caminho Direto”, pulando todos os estágios de prática, levando diretamente a um confronto consigo mesmo e com a vacuidade do “eu”. A única coisa oferecida pelo Zen na qual o praticante possa se apoiar são suas próprias ações.
São com as suas ações que um praticante Zen Budista pavimenta o caminho que ele irá percorrer. A cada pedra colocada, o praticante pode avançar no caminho. Ele pavimenta o caminho com a construção de seu próprio carma, portanto, ele altera seu carma e com isso, no Zen, tiramos a responsabilidade ou o poder sobrenatural de qualquer outro ser lá fora. Nós temos os poderes sobrenaturais para a construção de nossas próprias vidas. Desta e das futuras. Como? Através de seus pensamentos, atos e palavras, através da construção de seu carma.
(continua)