Mitos e Tradições | Monge genshô

Mitos e Tradições | Monge genshô

Pergunta: Poderia comentar um pouco sobre os elementos básicos que unem as diversas religiões e crenças espirituais? Existe elo de ligação nessa diversidade de opções religiosas?

Monge Genshō: Com certeza, recomendaria um livro interessante de Aldous Huxley chamado Filosofia Perene que trata de olhar os vínculos entre as grandes tradições místicas. Essas tradições são baseadas muitas vezes em mitos e como Joseph Campbell muitas vezes cita metade da humanidade acredita que os mitos são mentiras e a outra metade acredita que os mitos são verdades, mas ambos estão enganados, os mitos são metáforas e essas metáforas unem as tradições com um fio invisível. O que é necessário é que sejamos capazes de lê-los.

Dando um exemplo que é clássico, a história de Adão e Eva no Gênesis é a história de uma promessa de que se o homem comesse do fruto da árvore da ciência do bem e do mal ele seria expulso do paraíso. Se fizermos uma leitura budista desse mito, diríamos que o mito é bem verdadeiro, porque assim que o homem distingue entre o bem e o mal, ele cai na dualidade e ao cair na dualidade ele perde o paraíso. Uma leitura como essa clarifica a questão dos mitos que estamos lendo.

Então as diversas religiões bebem de uma fonte comum, se nós soubermos decodificá-las. O problema é nós as tomarmos como crenças em vez de entendê-las como narrativas metafóricas da realidade que precisa ser decodificada, porque os símbolos falam ao inconsciente. Então, o que nós vemos nas leituras fundamentalistas é a ideia de que, por exemplo, o mundo tem 6 mil anos de idade, ou que um Deus criador fez o mundo em detalhes e começam-se a fazer discussões sobre questões como Adão tinha umbigo ou não? Já que não teria nascido de uma mulher… e assim por diante. Tudo isso é pura tolice, mas do ponto de vista do zen nós não queremos conversar, falar, ou elaborar intelectualmente as coisas, mas sim dar um salto de compreensão e esse salto é dado quando você entende as coisas além de textos e palavras. Isso é realmente o que procuramos no zen.

Por isso, quando Bodhidharma trouxe o zen para a China ele disse “uma tradição além dos textos e escrituras, falando diretamente ao coração e à mente do homem, numa transmissão direta entre mestre e discípulo”.

Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, outubro de 2021.