Pergunta: Por que que o budismo usa toda a simbologia de uma religião?
Monge Genshō: porque religião e todos estes artifícios religiosos são muito eficazes – sem eles, não faríamos tudo o que fazemos. Os artifícios funcionam para libertar as pessoas, mas elas têm que olhar para tudo isso e ver que são meios hábeis, upaya. Nenhum deles é uma realidade em si mesma.
O manto de Buda é sagrado. Mas o que é o manto? É um pedaço de pano costurado, então é só pano. Mas por que é sagrado? Através de um comportamento, de rituais e tudo mais, esse pano se transforma em manto, que é considerado um objeto sagrado por você. Para quem não enxerga isso é só pano. Não é nada diferente.
É por isso Bodhidharma responde para o imperador: “não existe nada que possa ser chamado de sagrado”. Ao dizer isso, ele também está dizendo que todas as coisas são sagradas. Se todas as coisas são sagradas, não há nada que seja na realidade sagrado. Porque todas as coisas comuns são sagradas por sua própria natureza, por sua própria existência, por sua manifestação.
Pergunta: Isso é como uma espécie de gatilho mental?
Monge Genshō: sim, usamos o termo em sânscrito “upaya”, que quer dizer “meios hábeis”. Meios que permitem esta eficácia. Os meios são muitos. Nós pedimos, por exemplo, para todas as pessoas se vestirem com roupas de cores discretas durante as práticas. Para quê? Para que ninguém tente aparecer, se destacar. Se a gente disser: “pode vir como quiser”, daqui a pouco vem gente com joias penduradas, com perfume forte e a pessoa senta e todos ficam sentindo o perfume. Então a gente tem que dizer: “não use perfume, não use joias e vista roupas discretas”. A maneira de se vestir é não chamar a atenção. Se você chamar atenção sobre você, você está errado, porque a sangha, a comunidade budista, deve ser um corpo e não um festival de arte.
Todas essas sutilezas foram sendo desenvolvidas com o tempo e todas elas são eficazes, e é isto mesmo: eficazes. Nenhuma delas é uma verdade em si mesma. Algo que você diga: “ah, isso é um dogma, isso é um princípio, tem que ser assim”. Não é.
Pergunta: Se perder a eficácia vai vir um modo que substitua
Monge Genshō: sim, faríamos outra coisa. Se há algo que não funcione na nossa cultura, por exemplo, podemos pensar em outros meios hábeis.