Pergunta – Se ao sair do sesshin, ao chegar em casa, eu comece a praticar a compaixão com o único objetivo de acumular carma, estarei sendo egoísta, por que estou buscando algo em troca para teoricamente me melhorar?
Monge Genshô – Isso chama-se materialismo espiritual. Enquanto você tem esse objetivo, não que esse objetivo seja ruim, nós chamamos no budismo de caminho pequeno, desprezível, você pratica para você, no Mahayana você pratica para todos os seres. Hoje, aqui, praticante Mahayana é Giovanni, porque ele tinha um problema, não poderia vir e eu disse à ele – Mas todos te esperam. Então ele veio. Provavelmente todos os outros estão praticando para obter alguma coisa para si, mas é assim que a gente começa. Não acho ruim como motivação, porque todos quando começam a prática no zendo, vão para si mesmos. Todos começamos como prática egoísta e que bom se conseguirmos fazer alguma prática durante a vida, focada nos outros, Maha quer dizer grande, que abrange tudo, aquele que pratica para os outros. Sim , é verdade, mas não se envergonhem com sua motivação.
(O uso do termo Hinayana causa confusões devido ao fato de não existirem escolas Hinayana no budismo, os termos Mahayana e Hinayana foram usados para embates sectários no passado)
Observação – Podemos mudar o carma?
Monge Genshô – Com certeza, porque a cada pequeno ato compassivo, mesmo motivado egoistamente, acumulando essas circunstâncias um dia você agirá compassivamente sem querer, porque não pode evitar agir compassivamente. São marcas que as pessoas tem. Há gente que quando vê outras pessoas brigando, vai lá e fica torcendo e estimulando para que a briga continue. Semelhante a uma tourada ou outro ambiente com essa motivação de ver o sofrimento. Também existem aquelas que na mesma situação, automaticamente querem afastar. Qual é a marca cármica dessas pessoas? A pessoa que quer separar, simplesmente sente, ela não pensa em separar, nem pensa em produzir bom carma, boa marca. Ela sente vontade de separar.
Pergunta – Acho que o problema é o conceito de eu, quando tu fazes algo pra ti mesmo, na verdade isso é ruim pra ti mesmo. Mas quando tu te aprofundas e começas a ver que esse “ti mesmo”não é alguma coisa para que valha a pena batalhar, então tu perdes o interesse em fazer coisas para esse ti mesmo. Não é que pense em deixar de fazer para ti e faça para os outros, com o tempo isso se torna natural. Está certo?
Monge Genshô – Ou seja, nós construímos nossas marcas cármicas e essas são sólidas, essas que nascem de impulsos naturais. Porque quando você morrer, o seu carma, o que continua, essa autoconstrução sutil que quer se manifestar, vai procurar manifestação no lugar onde ela se sinta adequada. Como expliquei, se você tem marcas infernais, você só será atraído pelos mundos de vingança. É natural isso. Existem pessoas hoje, no fim de semana, que estão num boteco, bebendo, jogando, fumando ou falando da vida alheia, qualquer coisa desse tipo, nada produtivo, nada bom. Mas eles só se sentem bem ali, já saem de casa direto para o boteco. Existem outros que dizem – Vou pagar para sentar de frente para uma parede em um sesshin (retiro). Tem que ter marca cármica para estar num sesshin. Senão não estaria aqui, tem que ter marca para isso.