Mapa da nova sede, agora com 3 banheiros, zendô, templo, biblioteca e loja, quarto de monges e vestiário, cozinha, copa, depósito de materiais, lavanderia, estacionamento para carros gratuito a 5o m, ar condicionado. Próximo ao centro.
Pergunta – Uma coisa em que eu penso muito é sobre o consumo da carne. Não é mais somente uma coisa de propaganda. Antes eu pensava que era um hábito de família. Mas se formos observar a pirâmide alimentar dos nutricionistas, a base é carne e derivados de animais. Se for ao médico, ele lhe dirá para comer carne. Meu pai, por exemplo, ficou anos sem comer carne, então teve um problema de saúde, e o médico o assustou tanto, que ele voltou a comer carne. Existe algo além da mídia, é algo da ciência equivocada mesmo.
Monge Gensho – O que existe é um sistema de crenças, e ele irá variar. Por exemplo, nós sabemos que nos mosteiros Zen budistas, desde o tempo da China – ou seja, há mil e quatrocentos anos – se desenvolveu uma cozinha vegetariana, porque não se podia matar e na China a mendicância era proibida. O resultado final dessa cultura é que no Japão, por exemplo, o consumo de carne é uma coisa recente, tem apenas cento e poucos anos. Antes disso, comer carne era uma coisa absurda. Comiam bastante peixe, mas jamais carne de caça ou de bois e porcos. O resultado disso foi a longevidade; a tradição nos mosteiros Zen é de longevidade com lucidez, e dificilmente você vê alguém gordo, pois ali comem muitos vegetais e grãos.
Aluno – Parece que todo o modelo de consumo leva para a carne, não existe um financiamento de pesquisa contra o consumo de carne.
Monge Gensho – Existem outras correntes que questionam isso, já temos literatura a esse respeito. O máximo que posso oferecer é meu exemplo pessoal: não como carne há mais de sessenta anos, meu pai era vegetariano, fui criado numa casa onde até o cachorro era vegetariano, pois naquela época não se dava ração e ele comia o resto da nossa comida. E lembro que quando viajávamos e deixávamos o cachorro com minha avó, quando voltávamos, ele estava gordo. O cachorro pode viver sem carne, mas é essencialmente carnívoro. Sua arcada dentária é completamente diferente da nossa, por exemplo, que é semelhante à dos macacos frugívoros, ou seja, que comem frutas. Não temos dentadura típica de um animal carnívoro; nossa mandíbula é diferente também, tem movimentos laterais que os carnívoros não tem. Mas o budismo não está focado nessa questão.
Aluno – Eu sei, só quis colocar uma questão minha, uma dificuldade que tenho. Meu projeto é ir tirando a carne, é uma coisa minha…
Monge Gensho – Muitos budistas se dirigem para isso por um sentimento de compaixão ou por responsabilidade planetária, porque setenta por cento do desmatamento é para virar área de pasto. Se a humanidade não comesse carne, sobrava comida amanhã, porque a maior parte dos grãos cultivados vira ração para o gado. Existem os extremos. Existem animais que comem vinte e seis quilos de grãos para a produção de um quilo de carne. Por isso a carne é tão cara. Então, como existe esta tradição nos mosteiros, muitos budistas têm essa tendência de ter uma responsabilidade social sendo vegetariano. Mas o budismo jamais defendeu essa posição como um item necessário, sempre se focou na mente, “um pragmatismo dialético de métodos psicológicos”, como disse Edward Conze. É isso que o budismo é, um método de libertação pessoal, mas não com regras desse tipo com relação ao mundo. Isso tem que ser desenvolvido internamente…
Aluno – Desenvolvido e evitado, né? Eu vejo por mim, pois no meu caminho de apenas dois anos no budismo, já vejo a necessidade de mudar meus hábitos alimentares, mas não pela saúde física, e sim pela compaixão. Eu tenho sonhado com bichos, tenho acordado com um sentimento de compaixão por bichos, pois nos sonhos eu sou sempre muito amiga dos animais. Então está sendo quase inevitável…
Monge Gensho – Agora, isso é uma mudança cármica, não é? Na realidade é uma mudança de carma, a pessoa vai mudando. Mas isso tem muitos aspectos na vida, em muitos aspectos você pode ser impactado por isso, mas nós só estamos aqui nesse tipo de mundo, nos manifestando como seres humanos, porque somos criaturas de desejo, de apegos e profundamente egoístas. Nós somos assim. A solidariedade e a compaixão pelo outro é algo que a gente desenvolve, e se você desenvolver muito terá dificuldade de voltar para esse mundo; como existem muitos mundos, quem sabe você renasce numa terra pura onde a prática seja mais fácil? Essa é uma escola que existe dentro do budismo – “a terra pura”. A terra pura é um lugar onde a bondade é mais freqüente. Renascer num lugar assim não me parece ser um mau objetivo; é um bom objetivo.