P: Qual o motivo de nascermos com determinadas características?
R: Numa imagem metafórica, é como perguntar por que uma onda de água, ao bater num rochedo, reflui para o mar com igual força. Isso ocorre porque um “quantum” de energia tende a se propagar, e se manifestar com a mesma força e mesmas características básicas do fenômeno que o antecedeu. Percebemos, assim, que o “eu”, sendo um fenômeno temporário, uma construção aparente, não pode ser permanente, e,
portanto, não pode se manifestar novamente como o mesmo eu. Apesar disso, sua energia acumulada, sua onda “cármica”, esta sim, manifestar-se-á de novo, com características semelhantes. Logo, não existe “um mesmo ser” ou “um eu” para reeencarnar. Prefiro mesmo a palavra “manifestação” a “renascimento”, o “re” leva à crença em um nascimento que se repete, do mesmo indivíduo, tese do filósofo Senika que Buda refutou.
Uma imagem normalmente usada no Budismo: uma semente de manga produz uma mangueira que produzirá mangas do mesmo tipo (Nagasena responde assim ao rei Milinda). Não são as mesmas mangas, mas são uma continuidade semelhante, determinada pelas características anteriores. Nesse entendimento podemos dizer que um “eu” particular não renasce, pois sua existência é uma delusão. Porém, a carga cármica de cada ser manifesta-se novamente, mantendo sua força e características anteriores. No Zen Budismo, praticamos para alterar o carma e, até mesmo, a extingui-lo, voltando ao seio de nossa natureza última, não distinta nem perturbada por marcas particulares, nem pela crença em um “eu” separado, que é a ignorância fundamental.