Em Páli, Trikaya significa “OS TRÊS CORPOS”, nesse caso os três corpos de Buda.
Buda deriva do verbo “Bud”, despertar. Buda não é nome de uma pessoa, mas sim a qualidade de ser desperto. Por isso dizemos que todas as pessoas têm a capacidade de serem Buda ou, que somos Budas em potencial, pois temos um Buda escondido dentro de nós. Se acordarmos das ilusões, nos tornamos automaticamente Budas. Portanto, somos Budas em potencial, mas não de fato, porque enquanto formos sonâmbulos andando na vida, somos pessoas de sonhos, seres do Samsara, o mundo da perambulação.
Então temos três corpos de Buda. O primeiro é o “Dharmakaya”, o “CORPO DA VERDADE”. Para entendermos a figuração disso, o corpo da verdade é imanente por todo o universo. É como se imaginássemos o céu azul. Podem aparecer nuvens e tempestades, chuvas etc., mas quando tudo passa, lá está o imutável céu, ele não desaparece. Ele está sempre presente, embora possa estar totalmente obscurecido. O corpo da verdade de Buda é o Dharmakaya, portanto. Todos somos manifestações no Dharmakaya.
O segundo kaya é o “Sambhogakaya”, o “CORPO DA FALA DE BUDA”, o corpo do esclarecimento, da luz que ele traz. Imaginemos um lugar completamente escuro, uma noite escura onde nada se vê. Quando acendemos uma luz, ela instantaneamente revela todas as coisas, lhes dá cor e todas as coisas começam a ser visíveis a partir desse instante em que levamos o Sambhogakaya até esse local. É o corpo do ensinamento de Buda.
O terceiro é o “Nirmanakaya”, o “CORPO DA MANIFESTAÇÃO”, o corpo físico com o qual Buda se manifesta no mundo. Como ele possui um corpo físico e esse lhe é útil para iluminar todos os seres, para se deslocar, comer, aparecer e ensinar, esse corpo é então o corpo da manifestação física.
Na verdade, Buda é os três corpos. Quando falamos no Buda transcendente, não no homem, estamos falando nos três. O Buda é sempre o Dharmakaya, Sambhogakaya e é sempre o Nirmanakaya, e se manifesta cada vez que se torna necessário para salvar os seres do sofrimento.
Esse tipo de ensinamento tornou-se bastante popular à medida que o Mahayana e suas visões transcendentes de Buda se tornaram mais importantes, porque eles retiravam de Buda o aspecto humano. Mas o Zen não tem tanto essa característica, é como se estivesse escondido. Recebemos esse influência do Mahayana, assim como outras influências de adaptação, por exemplo, quando o budismo apareceu na China, a atitude de Buda de deixar a família, o filho e a esposa e ir ensinar, pareceu muito chocante aos chineses. Havia um questionamento sobre os antepassados e os valores familiares, que eram preciosos em razão da tradição Confucionista na China. Foram criados, em razão disso, inclusive um dos capítulos do Sutra do Lótus, que é dedicado a enfatizar os antepassados e a devoção filial, para que o Budismo fosse palatável para a cultura chinesa. Isso foi uma adaptação.
Os rituais de retorno e homenagem aos antepassados entraram no Zen nessa época e dessa forma foram para o Japão. Por isso não tem tanto sentido trazermos o peso de toda essa tradição para o ocidente, onde isso não foi tão importante. Nossas adaptações tendem a ser diferentes das que o Budismo sofreu na China. Estes conceitos pertencem à tentativa de transformar o Buda/Mestre/ homem em um ser transcendente. Por essa mesma razão aparecem nas estatuas de Buda longas orelhas, um sinal no meio da testa e uma saliência no topo da cabeça, são sinais de perfeição que pertencem à uma tradição Hindu de 32 sinais de perfeição. Na tentativa de fazer o Budismo palatável aos Hindus, os mestres do inicio do Budismo deixaram que a crença popular incorporasse determinadas características à figura de Buda. A estatuária de Buda surgiu somente três séculos após sua morte. Um dia destes uma pessoa escreveu na internet que Buda usava alargador de orelhas. Isso é uma não compreensão de todos esses fenômenos históricos. Buda é representado com grandes orelhas porque essa é uma das virtudes da compaixão, ser capaz de ouvir os lamentos do mundo. Temos que separar com cuidado o que é o ensinamento de Buda das incorporações culturais que lhe foram imputadas através dos tempos para torná-lo mais palatável às diferentes culturais as quais ele foi passando.