Esses obstáculos vão atravancando nosso caminho para o despertar, e sentamos para praticar o zazen, sentamos para nos livrarmos desses obstáculos, livrarmo-nos de tudo isso que atravanca a nossa lucidez, a nossa compreensão clara, a nossa capacidade de entender os outros, o mundo e a nós mesmos. Então, não é tolo quando dizemos: “sente-se e esqueça o passado, jogue fora tudo, não olhe para ele, não olhe para o futuro, porque ambos são fantasias da nossa mente, nós os criamos e os alimentamos”.
O centro do nosso treinamento é descartar, livrar-se. Quando você se senta aqui e está fazendo zazenkai (um dia de prática zen), vêm os pensamentos e as perturbações, então o que você tem que fazer? Descarte, descarte, descarte, descarte, até que eles se cansem de serem descartados. Não se importe pelo fato de um pensamento se apresentar pela milésima vez. Descarte a milésima vez, milésima primeira, milésima segunda, descarte, descarte… Se você fizer isso, haverá um momento que aquilo se cansa de se apresentar. Você vai sentar-se e, quando vier aquele pensamento, você dirá para ele: “você de novo? Já descartei você tantas vezes, não venha mais”. Então sua mente começa a mudar, e esse é o grande segredo e motivo de fazer zazen como nós fazemos. Chamamos isso de mushotoku: vezes sem fim, você descarta aquilo que se apresenta que é inútil. Vezes sem fim.
(Continua)
