Por que fazer a renovação dos votos?
Monge Genshô – Porque a gente esquece. Existe uma regra – não fale das faltas alheias, mas todos os dias comentamos sobre os erros das pessoas. É preciso muita força para cumprir as regras. Às vezes é necessário falarmos alguma coisa, por exemplo, hoje falei sobre a decadência dos monges, mas isso é necessário, mas precisa ter discernimento. O verdadeiro espírito da regra é não falar das falhas dos outros elevando-se a si mesmo, colocando-se em destaque, por exemplo, tal pessoa faz isso, mas eu não. Precisamos renovar os votos todos os dias, pois ninguém é perfeito, cometemos erros o tempo todo.
Depois de fazer os votos de noviço o que acontece, quais as obrigações?
Monge Genshô – Após tornar-se noviço a pessoa representa menos que um leigo, pois o leigo tem certa liberdade, pode manifestar sua opinião e pode discordar do professor. O noviço entra num caminho diferente, e após sua ordenação você ouve seu Sensei sem protestar. Se o Sensei aponta para o armário de madeira e diz que é feito de ferro, o noviço aceita que é feito de ferro. O noviço faz um voto de obediência, de silêncio e de esforço constante, caso contrário, pode perder seu manto ou será cozinhado na posição de noviço até perder seus defeitos principais e isso pode durar tanto tempo que ele nunca saia da posição de noviço.
Quando você se torna noviço a regra é: “cale a boca e limpe o chão”. É uma situação difícil, mas porque alguém é aceito como noviço? Porque ele tem algumas virtudes como trabalho, esforço, mas ao mesmo tempo apresenta outras dificuldades que precisarão ser trabalhadas. Neste contexto, o noviço será muito pressionado para superar suas dificuldades para que possa vir a se graduar e passar a “Zagen”. Quando o noviço atinge um nível de compreensão, seu mestre poderá convidá-lo a fazer o “Combate do Dharma”, uma palestra pública onde irá responder perguntas de qualquer pessoa. Após a batalha ele se torna Monge Aprendiz, “Zagen”, e aí ficará até que seu mestre lhe dê a transmissão do Dharma.
Em minha opinião isso não é correto, a transmissão só deveria ser dada para alguém que atingiu alguma realização espiritual, que atingiu pelo menos um aspecto da iluminação, de modo que o mestre possa dizer que o aluno é seu sucessor. Este deveria ser um caminho restrito, mas em um Budismo decadente, acaba-se levando a pessoa que se deseja graduar a uma determinada graduação, mesmo que esta não seja verdadeira. Já ouvi de um monge japonês a declaração de que sua graduação no Japão não tem a mesma representatividade que no Brasil, pois ele recebeu a transmissão por ser filho de monge e precisava receber. Ele busca um mestre para obter uma realização espiritual e receber uma verdadeira transmissão do Dharma.