Muitas pessoas pensam que a escola Soto Zen não usa koan,isto é um engano. A diferença é que a escola Rinzai põe ênfase nos koans. E a escola Soto põe ênfase no shikantaza, a meditação sentada, e deixa o koan como uma coisa auxiliar. No entanto, os mestres Soto costumam usar koan. Aquela pergunta quem é você? Não é um koan,aquilo é um hua-t’ou (jap. watô). É outra técnica, questões que pressionam. Mesmo os praticantes que estão há anos praticando têm muita dificuldade para responder essa pergunta de forma satisfatória.
Koan significa caso público, caso registrado. É um diálogo entre mestre e discípulo, que foi registrado, sobre o qual você pode pensar e tentar responder. Por exemplo, os discípulos estavam disputando por um gato. Normalmente não existem ou não é para existir animais de estimação nos mosteiros, mas de repente aparece um e é adotado. Então, havia um grupo de monges no mosteiro disputando um gato. O mestre chegou na sala, pegou o gato, levantou-o no ar, tirou a navalha que serve para cortar a barba e disse:digam uma palavra Zen e o gato se salvará. Um monge falou: o gato é meu, o outro: não mate o gato. O mestre cortou o gato ao meio. Isto no budismo é absurdo. Mas, ele matou, assumiu o risco de fazer isto em benefício de muitos outros seres porque até hoje estamos falando nisso. À noite chegou um monge que estava viajando. O mestre relatou a história. O monge pegou as sandálias e as colocou sobre a cabeça e saiu, e o mestre disse: se você estivesse aqui teria salvado o gato. O koan é assim: me diga o que você teria dito para salvar o gato. Até hoje eu vi uma pessoa que salvou o gato, metaforicamente. Ele levou um ano tentando,mas conseguiu. É como a resposta a quem é você? Se alguém dá uma resposta que ele aprendeu filosoficamente, na hora você vê que esta resposta é uma resposta só da sua cabeça.Traga-me uma resposta das suas entranhas. E esse é um dos problemas do koan porque originalmente aconteciam diálogos entre mestres e discípulos, na época de ouro do Zen, e eram muito fortes estes diálogos, verdadeiras as respostas. Com o tempo isto foi sendo escrito e tornou-se caso público como essa história do gato que eu estou contando. Mas vocês não estavam lá nem estavam disputando o gato. Então não era a sua vivência pessoal. É agora uma referência a um caso passado.
(trecho da palestra “A árvore sem raiz” disponível em www.chalegre.com.br/zendo na secção Textos/ Monge Genshô)