(…) As pessoas dizem: “minha mente não pára”, “eu não consigo fazer um bom zazen” ou “eu sou um mau praticante”. E se sentem desacorçoados de não alcançarem aquele objetivo tão alto de despertar, parece que o despertar é impossível. No entanto, numerosos textos nos mostram que não é assim, que na realidade as pessoas têm até facilidade de ter relâmpagos do despertar. Ou seja, podem verificar com as suas próprias experiências que o despertar é possível. O que ocorre é que as pessoas têm experiências fugazes de despertar.
Tenho usado as palavras originais para explicar isso e essa abordagem gradual do despertar que está muito bem explicitada no famoso texto “Os dez passos do boi”. Se você prestar atenção nos dez passos do boi, no terceiro passo já há experiências de despertar; no quarto, nós diríamos: “ah, essa pessoa dominou a sua mente”, poderíamos até como vulgarmente se faz dizer: “ocasionalmente ele é age como um iluminado, em outras ocasiões ele não é um iluminado”. Ou seja, experiências de despertar, curtas e fugazes, são relativamente comuns. Normalmente, quando temos um sesshin com cinquenta pessoas, por exemplo, duas ou três pessoas vêm até a mim no dokusan e contam uma experiência de kenshō. Ken quer dizer “ver” e shō quer dizer “verdadeira natureza”. Ver a sua verdadeira natureza.
Numa experiência como um sesshin em que você está quieto, calmo e começa a descartar os seus pensamentos invasivos, o ritmo de surgimento de pensamentos diminui muito, ainda continuam vindo, mas o seu ritmo diminuiu. E a medida que entramos em um estado de samadhi, de concentração, que se caracteriza pelo fato de você realmente ouvir os sons lá fora e nada vir perturbar você, nenhum pensamento invasivo, nenhuma preocupação, nenhuma inquietação, nenhuma memória do passado.
Mas esse momento de samadhi pode também ser curto. Pode ser que ele aconteça e dure 10 segundos, você teve a experiência de samadhi. A questão é quanto tempo eu consigo prolongar isso e ficar mais tempo nesse estado de percepção, de concentração plena, estar aqui e agora, apenas ouvindo o som do riacho. Se você conseguiu neste momento só ouvir o som do riacho e nenhum pensamento conseguiu se instalar, embora alguns tenham namorado a sua mente, tenham flutuado tentando penetrar, então se concentrou realmente. (Continua…)
Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Pirinópolis, outubro/2018.