Kahner Sama
Kahner Sama foi um homem de uma vida incrível. Saiu da Alemanha antes da Segunda Guerra e foi diplomata no Oriente. Falava tantas línguas que perdi a conta, inclusive chinês e japonês. Suas traduções eram ótimas! Conheceu o Budismo no Oriente. Morreu aqui em Porto Alegre. Certa feita, falei com ele sobre sua morte que sabíamos, se aproximava muito rápido após um primeiro enfarte. Fizemos isso tomando vinho na mesma sala em que escrevo este texto. Estava muito bem preparado. Não se agarrava a nenhuma ilusão. Deixou-me um Hai Kai:
Lua cambiante
Passeia pelas nuvens,
Caminhamos juntos.
Aquele homem, que parecia rir de nós em seu caixão, enquanto líamos o Sutra do Coração, costumava usar velas para responder a questão do Atman. Ele perguntava: – Se eu passar a chama da primeira vela para a segunda, acendendo-a, é a mesma chama? Sim, é! Mas também não é! É outra chama. É a mesma chama… Assim a vida não cessa nem começa, ela continua. A vida é um processo, não uma sucessão de começos e fins. Somos todos fogo, não chamas individuais, mas também somos cada um uma chama, porém não separada da anterior e posterior. Entenderam?
E ria gostosamente.