Bodhidharma não queria nenhum aluno que estivesse lá por mera curiosidade. E isto é uma experiência que a gente tem constantemente. Cada vez que eu vou fazer uma palestra para um público grande, simplesmente sentam 200 pessoas lá porque ouviram falar que vem um professor budista. Mas as perguntas muitas vezes são desconexas com o budismo. Lembro-me muito bem que estava fazendo uma palestra na UFSC quando uma mulher levantou o braço e disse assim: “mas o senhor não acredita em nada!”. Ela queria que eu desse alguma coisa para ela acreditar. E eu disse: “o zen não é uma religião de acreditar. O zen é uma religião de despertar”.
Eu sei que o que eu disse não é uma resposta, que não faz cair a ficha na hora. Vai ter que pensar nela durante muito tempo, porque tem que entender o que é despertar. E é por isso que no caso de Bodhidharma não é questão de não ter compaixão. É que não adianta explicar isso para quem não tem uma profunda necessidade, para quem não estiver disposto a jogar tudo fora, para quem não estiver disposto a cortar o braço. Não adianta explicar. A explicação não vai funcionar. Por isso, as boas aulas só são dadas na sangha. E só para quem se senta (em zazen) antes.
[Trecho extraído de palestra proferida em Florianópolis, 23/08/2016, por Meihô Genshô Sensei]