3) O senhor falou agora sobre a felicidade. Ela pode ser eterna? Até onde eu entendi tudo na vida é transitório.
Monge Genshô – Buda recusou duas idéias – eternalismo e nihilismo – o budismo é o caminho do meio. Pela própria definição do que é a vida, nada pode ser eterno. Existem vários estágios de clareza para serem atingidos, a iluminação tem muitos degraus. Embora você tenha um insight e atinja um kenshô, isso não significa que em toda sua vida você agirá perfeitamente sem perder a paciência ou que não surgirão pensamentos dentro de você. Talvez a diferença seja que você olha para você mesmo e perceba isso acontecendo.
Conforme você avança na prática, haverá o dia em que estes sentimentos não mais se manifestarão e seus atos transparecerão este estado mental. Tudo sempre continua, não igual, mas mudando, e pode haver um dia em que você não caiba mais em um corpo humano. Haverá a necessidade de outro estado, talvez não necessariamente no mundo da forma. Apesar de se falar nisso no budismo, isso para nós agora é só teoria, pois estamos envolvidos nas coisas mais comezinhas, mais bobas e dos sentimentos mais tolos. No entanto se conseguirmos sair deste tipo de sentimento para sentimentos mais elevados, esta será uma vida mais feliz.
4) Eu li em um livro uma vez algo sobre quando você toma consciência de como você é, você consegue mudar, é assim que funciona, à medida que você vai percebendo as coisas você vai mudando?
Monge Genshô – O simples fato de perceber ajuda imensamente, pois isso significa uma auto-crítica, já é um primeiro passo. Quando você sabe que está fazendo algo errado, já é muito bom.
Estudar e compreender a si mesmo são coisas muito importantes. Dogen disse que “estudar o Zen é estudar a si mesmo e estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo”, então, quando você conseguir esquecer-se de si mesmo, seus erros e suas dificuldades, esse sim será um enorme passo, pois enquanto você estiver olhando para si mesmo ainda existe uma grande noção de um ego.
Nós estamos num sesshin e se ocorre a você um pensamento do tipo “por que eu estou aqui?”, isso é um “eu” pensando. O correto seria você sentar quando tem que sentar, comer quando for para comer, ir ao banheiro quando tiver vontade e em momento algum pensar no “eu” e nos motivos que o fazem estar aqui, esteja simplesmente aqui com todos os outros, fazendo o que todos estão fazendo. Se você conseguir esse nível de sentimento é um grande passo.