“Pelo que sei através de mais de 50 anos de estudos de budismo, não existe nenhum termo alternativo para designar o Mahayana, a não ser, talvez, a expressão Bodhisattva-yana )Veículo dos Bodhisattvas) e a expressão Ekayana (Veículo Uno) que, entretanto, não são exatamente sinônimos de Mahayana, possuem um sentido ligeiramente diferente.Volto a isso mais adiante.
Quanto a questão do Hinayana/Theravada, a questão é bem mais complexa do que parece à primeira vista. Vejamos:
1.Realmente o termo Hinayana tem um sentido um tanto pejorativo e deve ser evitado.
2.Entretanto, Hinayana não é exatamente sinônimo de Theravada. A expressão Hinayana abrange, além do Theravada, uma série de escolas há muitos séculos desaparecidas, como Sarvastivada, Sautrantika e outras.
3.O que foi chamado de Hinayana é, na verdade, uma síntese de dois caminhos ou Veículos, o Veículo dos Pratyeka-buddhas (os que se iluminam sozinhos) e o Veículo dos Sravakas ou Auditores, isto é, os discípulos que se iluminam ouvindo as palavras do Buda. A esses dois Veículos se contrapõe um Terceiro Veículo, o dos Bodhisattvas, isto é, o caminho daqueles que por sua Sabedoria poderiam ingressar no Nirvana, mas que por sua Compaixão adiam indefinidamente esse ingresso para se dedicarem à salvação de todos os seres viventes. O Caminho dos Bodhisattvas é o alicerce do Mahayana, mas este último, evidentemente, é muito mais do que isso, pois compreende as Escolas filosóficas do Vazio e da Consciência e outros elementos. Já o Ekayana ou Veículo Uno, exposto no Sutra do Lótus da Lei Excelente (Saddharmapundarika, Hokkekyô) é uma síntese que engloba e transcende os três Veículos supracitados.
4.Uma solução para evitar o termo Hinayana seria, talvez, denominar os dois primeiros Veículos de Veículos Menores. Outra solução seria explicitar os nomes desse dois Veículos, sem adjetivá-los: Veículo dos Autoiluminados, Veículo dos Auditores.
5.Insisto ainda em lembrar que é historicamente errado considerar o Theravada uma forma arcaica de Budismo anterior ao Mahayana. Ainda que o Theravada conserve uma série de textos que remontam à fase mais antiga do Budismo, ele foi evoluindo através dos séculos e muitos dos textos hoje englobados no Cânone Pali são posteriores aos textos Mahayana mais antigos.
Como vê, a História do Budismo é bem mais complicada do que possa parecer à primeira vista.
Gasshô,
Shaku Riman”
(e mail do Prof. Ricardo M Gonçalves em resposta a indagação de um praticante)