“O trabalho espiritual tem o sentido de, pela forma, procurar atingir o espírito. Então é um profundo engano entender a prática do Zen como: isso é orientalismo, isso é niponismo etc, porque se nós fossemos lá para o Japão onde começou a prática Zen, nós veríamos as pessoas dizendo, como aconteceu muitas vezes na prática japonesa, que isso era prática estrangeira porque a religião japonesa era o Xintoímo e o Zen não era japonês, era chinês. Essas tradições tinham sido trazidas da China, de mestres chineses.
Agora viajemos até a China e vamos ver a história do budismo e veremos imperadores chineses e líderes chineses taoístas, perseguindo o budismo porque era religião estrangeira, não era chinesa , tinha vindo da Índia. E essas idéias eram estranhas à China. Ou seja, essa discussão é antiga demais, velha demais e engano que ressurge nas mentes há milênios. Há dois mil anos já havia esse tipo de problema. Então nós não podemos nos confundir com esse tipo de coisa. Temos que entender qual o sentido do Zen. Por que no Zen se bate um sino de determinada maneira, porque é tão difícil. Sodô que agora está batendo há tanto tempo (o sino) conseguindo fazer três batidas bem parecidas. Quanto tempo levou para conseguir bater três vezes bem parecido? É bem difícil. Por quê? Porque é muito simples, mas expressa algo, porque só uma mão calma pode bater igual. E como uma mão vai expressar essa calma? Só com uma mente calma. Então toda a forma que nós temos no Zen tem um sentido.”
(Íntegra publicada em www.chalegre.com.br/zendo em Textos, Monge Genshô, sob o título: O significado da forma no zen)