Finitude e Crença (parte 2)

Finitude e Crença (parte 2)

De tempos em tempos, havia a tentativa de voltar ao deus superior. A primeira talvez tenha sido a de Akhenaton, no Egito. Akhenaton seria o deus sol, deus único. E isso aboliria os outros deuses inferiores. 

A cada vez que se tentou monoteísmo, tentou-se também a eliminação, digamos, dos concorrentes, os concorrentes das outras tribos, os concorrentes locais, tentando uma espécie de divindade universal. 

O grande problema da divindade universal sempre foi o seguinte: se ela era onipotente, onipresente, onisciente, se ela era tudo, como ela permitia o mal? Uma opção seria que ela se comprazia com o mal também, mas ninguém optou por isso de verdade. Optou-se, no lugar, por ideias de dualismo: a existência de um deus do bem e um deus do mal, o encarregado do mal. 

Essa ideia de dualismo muitas vezes penetrou nas religiões monoteístas. Religiões dualistas a rigor eram o zoroastrismo e o maniqueísmo que contemplavam a existência de deuses que lutavam entre si – um do bem e um do mal. Houve ainda uma ideia interessante de Abraxas, um deus que reunia em si mesmo o bem e o mal, que era o bem e o mal, mas não sobreviveu. A opção que sobreviveu foi tentar justificar o grande deus do bem com interferências ocasionais do mal, que, por algum motivo, ele não eliminava, e desculpar o deus onipotente, o criador, através do mecanismo, por exemplo, do livre arbítrio, dizendo que era o homem que realizava o mal. 

Outra opção foi dizer que o espírito era o bem e que a matéria teria sido criada pelo mal. Isso sobreviveu mesmo no Cristianismo, nos seus primórdios, como com o bispo Orígenes, que castrou a si mesmo para retirar do seu corpo o implante do mal. Houve seitas na idade média que preconizavam isso: já que o mal está no corpo, nós temos que eliminar esse mal, íncubo do demônio, que seria, neste caso, deus do mundo.

(continua)