P: Felicidade existe?
R: Sim, existe.
Será possível dizer de uma pessoa que afirma “sou feliz” que ela está enganada?
R: Sim, porque enquanto ela pensa “sou” ela está enganada. Não podemos ser felizes enquanto pensamos que existe alguém separado de tudo e que somos nós mesmos.
P: Na tragédia de Goethe, Fausto experimenta um instante de plenitude e pede que aquele instante, tão belo, perdure eternamente. Por que tudo que é belo é transitório?
R: Tudo é impermanente, tanto o belo quanto o feio. Um instante de plenitude só é possível quando esquecemos de nós mesmos e engolimos o universo, a plenitude.
P: Esse lugar em que sou “peixe entre peixes, pássaro entre pássaros”, que está “do lado de fora”, e não “do lado de dentro”, seria justamente um estado de inconsciência, sem memória, de completa comunhão com o instante?
R: Sim, está bom isto.
P: É por isso, talvez, que o passado nos parece sempre mais feliz. Recordamos o passado como se o tivéssemos vivido em estado de plena e total imersão em cada minuto. Pensamos que naquela época só existia o presente para nós. Evocamos um dia feliz do passado, mas não nos lembramos daquilo de que nos lembrávamos naquele dia. Ou seja, esquecemo-nos da memória que tínhamos, e que nos pesava certamente.
R: Esta memória é um dos constituintes do que pensamos “nós”, um homem sem memória, acorda no hospital e pergunta “quem sou eu?”