Como eu disse durante a prática, nós nos sentamos em Zazen para alterar nossa mente. Nossa mente está perdida numa espécie de sonho. Nós nascemos, manifestamo-nos neste mundo, temos corpos, cérebro, experiências. Elas ocupam nossa mente de uma maneira tão absoluta que chamamos isso de delusão: é mais do que uma ilusão, é uma ilusão que nós não conseguimos identificar como ilusão.
Nós, por exemplo, sabemos que a televisão é ilusória, que os personagens são pixels numa tela. Nós sabemos que as fotografias são tinta e sabemos que elas são ilusão, embora sejam tão nítidas. Mas nossa vida, nós a enxergamos de forma ilusória, mas não conseguimos ver que é ilusão. É mais profundo que uma ilusão: é uma delusão da qual não conseguimos escapar.
A humanidade sempre se questionou a esse respeito: por que estou aqui? Quem sou eu? Por isso a humanidade criou crenças. Há milhares de crenças diferentes. A simples existência de milhares de crenças já diz o que é que elas são: ilusão.
O Zen é uma escola do Budismo que começa por agredir frontalmente as ilusões. A maioria das escolas budistas têm abordagens mais graduais, mas o Zen já nasceu com esse caráter dentro de sociedades budistas, e os mestres Zen queriam alunos especiais de dentro da própria sociedade budista, homens que quisessem a iluminação, que quisessem libertar-se de todas as ilusões e acordar, como Buda.