Explicando o conto Taro

Explicando o conto Taro

A Folha de São Paulo publicou um conto infantil de Saikawa Roshi que conta a história de um peixe, “Taro”, que acredita numa lenda marinha que fala da “Água da Vida” e que quem bebe desta água torna-se eterno.
Taro passa então a percorrer todos os mares em busca da “Água da Vida”. Para qualquer peixe que perguntasse, ninguém sabia lhe responder onde ficava a “Água da Vida”. Decepcionado, Taro finalmente desistiu e tomou o rumo de volta ao seu mar de origem. Mas algo aconteceu quando ele se aproximou de sua casa. Taro chegou a um lugar no qual o solo arenoso começou a subir. Mesmo longe da praia, a água ficava mais rasa. Repentinamente, uma onda enorme ergueu-se e lançou Taro para fora da água. Metade do corpo de Taro ficou fora do mar. Foi então que ele avistou um mundo diferente de tudo que já vira antes. Nesse momento, ele perdeu o fôlego e não conseguia mais respirar. Foi então que compreendeu tudo muito claramente.
Agora ele percebia que estivera dentro da “Água da Vida” desde seu nascimento. Ele então tenta explicar para os outros peixes que a “Água da Vida” é a agua que está em volta deles. Mas os outros peixes não o entendiam. “Vocês estão mergulhados na “Água da Vida”, essa é a “Água da Vida” ele dizia, mas não o entendiam. Em razão de sua descoberta Taro muda seu temperamento, seu comportamento e sua maneira de ver a vida, transforma-se num peixe feliz e sempre sorridente conquistando o coração de todos a sua volta. No momento de sua morte todos o rodeiam e ele lhes fala, “A verdade é que todos nós somos a Água da Vida”.
Através desta história, Saikawa Roshi está falando de nós mesmos e está tentando atingir as crianças. A história da iluminação está nesse conto, todos estamos mergulhados na própria condição da iluminação. Temos todas as condições para o despertar, mas não conseguimos enxergar e aqueles que enxergam não conseguem explicar para os outros.
Esse tipo de história é bem comum no Budismo. Há a história de uma rã que vivia dentro de um poço, um dia ela consegue sair e vê o mundo e suas maravilhas. Quando retorna ao poço tenta explicar para as outras rãs sobre o que havia visto, mas ninguém acredita, porque por mais que ela descreva, a imagem desse mundo é inalcançável para quem só vivia dentro do poço. História semelhante ao mito da Caverna de Platão em que os homens dentro da caverna só viam as sombras na parede e pensavam que aquilo era o mundo e só aquilo existia, quando um deles sai e conhece o mundo e volta para lhes mostrar, ninguém entende ou acredita.
Quem não despertou não entende do que se está falando. O Budismo é estritamente experiencial, por isso o foco na meditação, pois só através da prática do zazen seremos capazes de acordar e ter vislumbres do mundo lá fora. No conto de Saikawa Roshi há ainda outro elemento que é estarmos rodeados pela “Água da Vida”, mas como não a percebemos, ela não existe para nós. Mas aquele que percebe é transformado por esta descoberta.