(quadro de Eduardo Salinas)
Pergunta – Mas como viver sem planejar, sem ter objetivos?
Monge Genshô – Você traça o objetivo, vai atrás dele, mas você tem que saber que ele é fonte de sofrimento. O segredo é não alimentar nenhuma expectativa. Eu desejo uma coisa, não consegui, não tem importância nenhuma, você se livrou. Então ter objetivos é necessário, quando se está trabalhando na vida, mas você tem que saber que não pode se agarrar a eles como se fosse sua essência, e se você não conseguir, que horror. Não é assim.
Você agrega as coisas a vocês mesmo. Você compra um vaso bonito e leva pra casa, aí é “meu vaso”. Aí “meu vaso” cai no chão e quebra. A pessoa diz, “ah, meu vaso quebrou”, e sofre. Porque ela colocou “meu”. Se fosse só “vaso”, não teria sofrimento. Se fosse: “comprei um vaso, levei pra casa, vaso. Caiu, quebrou. Vaso quebrou. Juntar cacos, ponto”.
Agora quando você coloca “meu”, pronto. Por isso que os relacionamentos amorosos são sofridos, porque coloca-se “minha” mulher, “meu” marido”. Você não me deu atenção, você não me cumprimentou, você não se lembrou do meu aniversário, etc., tudo é “meu”, então há muito sofrimento. Quando acaba o relacionamento, perdi “meu” relacionamento, levei um ponta pé. Então há sofrimento. Mas o sofrimento vem de quê? Sempre vem de “eu, meu, minha”. E o “meu” objetivo também é assim, esse que é o problema. Se fosse só “objetivo”, não teria problema.
É mais ou menos assim, a gente vai fazer uma palestra, já fui fazer palestra e não veio ninguém, então o que vamos fazer? Vamos sentar e meditar, porque tanto faz. Vem um vem vinte, é a mesma coisa, tem que ser assim, se não for assim, não funciona.
Aqueles que começam grupos de estudo do zen eu sempre digo: você vai lá, fez um grupo de meditação na sua casa, não veio ninguém, o que é que você faz? Senta sozinho. Qual é o problema? Nenhum problema, eles não são “seus”, todos são livres, não tem problema. Quanto sofrimento por causa de “meu”.
Alguém pega um passarinho, põe numa gaiola e diz: “meu” passarinho. E o passarinho tem que ficar preso na gaiola. E ele nunca quis ficar numa gaiola. Então, melhor tirar os “meus”. Tirar o “eu, meu, minha”.