Naquele momento parece sofrimento, depois não parece mais. Como é o caso do Itzhak Perlman que eu narrei [violinista que se aprimorou na música devido à paralisia infantil]. O sofrimento é o caminho mais curto para as realizações espirituais, que é o que nos interessa aqui.
A definição da palavra sofrimento já não importa muito, porque o que Buda falou é que a vida é insatisfatória por natureza, e ela é insatisfatória porque tem altos e baixo por natureza: a vida é boa hoje e ruim amanhã. Tem sempre uma consequência. A vida se constitui dessa forma. Mas isso não quer dizer que você vai viver só de evitar o sofrimento, procurando só o prazer, ou que você vai viver uma vida evitando todo prazer e procurando só o ascetismo, porque essa é a solução de Buda.
Um instrumento musical com uma corda muito apertada arrebenta, e uma corda muito frouxa não toca. Então, a maneira certa de se viver é moderadamente, nem excesso de prazeres, nem excesso de sofrimento, nem se martirizar, nem se entregar somente a prazeres. Tem que haver um equilíbrio, uma dose. Tenho certeza que teus filhos têm partes muito boas na vida deles. E provavelmente grande parte disso é produzido pela própria mãe. Eu já trabalhei com crianças em orfanatos, e eu descobri que muitas dessas crianças que estavam no orfanato da FEBEM, em Porto alegre, eram crianças que fugiam de casa: eles não queriam voltar para casa porque a casa deles era horrível. Vocês não podem imaginar as coisas que a gente ouve das crianças, com pais e mães torturadores e coisas congêneres. Aí sim você sabe o que é dor e sofrimento.