Você só joga um jogo se aceita as convenções daquele jogo. Caso contrário, você sai dele. Esse jogo inclui planejar. Por exemplo, o jogo de xadrez inclui planejar estrategicamente a longo prazo e taticamente a curto prazo, e não é diferente dentro das empresas: faz parte do jogo planejar, pensar no futuro e tudo o mais.
O problema verdadeiro para a iluminação é o seguinte: você está jogando um jogo, mas tem que saber que é um jogo. Você tem que ir lá e fazer o oryoki durante as refeições, mas você tem que saber que é uma convenção criada, que é um ritual estabelecido, mas que o seu erro não é motivo de desespero, não é motivo para ficar horrorizado – “fiquei chateado” ou “fiquei no zazen pensando que tenho que me esforçar para fazer melhor, eu não posso errar, isso é uma vergonha”. Eu vi muitas vezes Monges ficarem arrasados porque erraram. Monja Sodô deve ter visto isso nos mosteiros. Os japoneses são de uma sociedade de vergonha, e ficam extremamente envergonhados por errar, ficam em jejum por terem errado um detalhe. Para brasileiros, é mais ou menos assim: “errei, está bom” (risos). “Na próxima vez eu vejo como é que eu faço” e pronto. Japoneses não compreendem muito bem essa atitude irreverente com relação ao erro, porque para a cultura deles é extremamente importante fazer tudo com a maior perfeição possível.
Agora, esse atribuir enorme importância a algo que é desimportante é um erro de visão. Pode ser até útil do ponto de vista da perfeição do que você faz, do esforço, e isso se traduz na perfeição com que os japoneses costumam fazer todas as coisas: os rituais, a fabricação, a criação, é tudo muito bem feito.
Normalmente defeitos e qualidades têm a mesma origem: um grande defeito de alguém também é sua grande qualidade. As duas coisas estão juntas, e você tem que saber lidar com elas para operar melhor no mundo.
[Trecho de palestra proferida por Genshô Sensei]