Esse contraste com que estamos fazendo é imenso, estamos no sesshin (retiro) o som do mar já é forte, os pássaros cantam muito alto, já ouvimos com nitidez, não é um som abafado que está presente em nós. Estamos procurando clareza e presença, nosso corpo dói. Não se enganem em pensar que os monges não sofrem, ficar parado, imóvel, provoca dores no corpo, muito desconforto, mas esse desconforto nos traz uma extrema consciência de que eu tenho um corpo, estou vivo, quero um momento qualquer que seja mais confortável que isso, um samu (trabalho comunitário), a caminhada, uma palestra.
Então, nós estamos a procura da clareza em contraste com a loucura do mundo, esse embrutecimento, o não ver com clareza nossa verdadeira natureza e mergulhar mais fundo na ilusão. Na verdade nós estamos dentro do sesshin mergulhados na ilusão. Na ilusão de nossa própria manifestação pessoal. Somos ondas de irregularidade na superfície do universo, nós pensamos que somos, esse pensamento de que somos um eu, é nosso sonho, nossa ilusão. Despertar dele é muito difícil, mais ainda quando sentimos dor, nesse momento nos sentimos ainda mais presentes, sentimos “eu estou aqui”.
Mas você sente a sua ilusão com clareza, quem vai para a festa tenta esquecer tudo, é como se jogasse fora a oportunidade da vida, como se não estivessem se abrindo e vendo as coisas como realmente são e mergulhados no inebriar-se para esquecer, por isso as palavras são entreter, divertir. Essas palavras significam, sair do seu centro e ir para fora, algo diverso, diferente. Dessa forma, com esse jogar-se na embriaguez do movimento, do som e do prazer, perde-se a nitidez e nossa própria percepção.
(continua)