Pergunta – Mas então eu poderia falar que a sabedoria seria uma forma de manipular o ego, pois mesmo após a iluminação ainda possuo um eu.
Monge Genshô – Sim, é claro, você o usa. Você precisa de seu “eu”, não é que ele seja ruim ou bom, ele é necessário, você precisa dele para transitar no mundo. O que você não pode fazer é confundir-se com seu “eu”. Você não é seu “eu”. O “eu” é uma fantasia que você veste para viver no mundo. Quando você tira a fantasia, pendura num cabide olha para ela e diz, “Ali estou “eu”?”, isso está errado. Vivemos pensando que temos identidades e fantasias. Usamos fantasias diariamente, bancário, advogado, monge, policial, capitalista, comunista etc., todas são fantasias que podem inclusive ser trocadas. Todas as coisas que formam o “eu” são como fantasias.
Pergunta – Então por que ou como se caracteriza uma experiência de kenshô onde essa natureza se manifesta…
Monge Genshô – Não, ela não se manifesta, você a vê. Ela está aqui, você só não a vê porque está com óculos coloridos de sua fantasia, sua fantasia inclui óculos coloridos que fazem com que você veja o mundo com aquela cor. Se em sua fantasia você vê os outros como inimigos é porque você usa óculos que torna os outros seus inimigos.
Pergunta – O que leva uma pessoa a ficar presa numa determinada fantasia?
Monge Genshô – Marcas cármicas. Energias de hábito. Você começa usar uma fantasia e ela cria energia de hábito, essa energia faz com que você volte sempre para a mesma fantasia. Quanto mais você repete, mais forte fica e mais difícil de sair daquela posição. Isso acontece tanto para o mal quanto para o bem. Quando você se torna monge começa a vestir a fantasia de monge, incorpora esse papel e começa a comportar-se como monge, quanto mais você acentua esse comportamento, mais ele o marca. O mal também é assim, se você começar a viver uma vida com maldade, ela também irá marcando você. Eu vi uma vez o testemunho de um assassino onde ele dizia, “Ah, a primeira pessoa que a gente mata sente sede, ansiedade. A segunda pessoa a reação muda um pouco, depois da oitava ou nona, não se sente mais nada”. Todos vocês são assim. Se você está habituado a sentar-se à mesa e colocar um bife sangrento no prato e corta-lo e comer, você em momento algum pensa no boi que sofreu, foi morto e arrancado um pedaço para que você pudesse comer. Você nem pensa sobre isso. Você não se dá conta que está envolvido num processo de sofrimento.
Essas energias de hábito podem ser mudadas. Como? Repetindo atos bons, evitando os maus, isso vai por si só mudando os hábitos, os hábitos me marcam, a marca me muda e é essa mudança que levo comigo. Mesmo após minha morte o carma que provoquei no universo continua e quando outra vida se manifestar levará consigo esses sentimentos, apegos e desejos. Para tornar-se monge precisa marca cármica, vocês estão aqui porque tem marca cármica, para ouvir o Dharma precisa ter marca cármica.