Pergunta – Eu tenho uma questão com relação ao zazen. Quando sentamos qual deve ser a intenção? Existe uma técnica para o não pensar?
Monge Genshô – Você não deve pensar em esvaziar a mente ou em não pensar. Isso não funciona. Tem até uma historinha Zen sobre isso, um aluno pergunta ao mestre o que deve fazer e ele responde: “Fácil, não pense em macacos”. No final do dia o aluno retorna e diz, ”Por favor, mestre me livre dos macacos”. Existe uma mente operacional e uma mente verificadora, esta fica o tempo todo checando: “No que você está pensando, em macacos?” o que torna impossível pensar em não pensar.
A instrução para sentar é não seguir os pensamentos, deixe que eles venham e passem, não os agarre. Quando estamos começando a praticar, normalmente os pensamentos que aparecem são o retrato de nossa mente. O que surge é fruto, produto daquilo com que alimento minha mente. O mesmo acontece com os sonhos. Você irá sonhar com aquilo com que você alimenta sua mente. Isso é uma verificação. É preciso muito tempo de prática para chegar ao ponto de repouso, uma serenidade, os pensamentos chegam e vão sem perturbar sua mente. Você passará a maior parte do tempo repousando, simplesmente sendo o momento presente.
Pergunta – Eu li em alguns livros sobre o “não sei” e isso me parece um tipo de condicionamento, como se desapegar e manter esse não sei, mas ao mesmo tempo me parece também que isso é apenas um apego disfarçado.
Monge Genshô – Uma mente “não sei” significa eu aceito que não sei as coisas. É muito comum as pessoas me perguntarem: – O que acontece após a morte sob o ponto de vista do Budismo? Minha resposta é não sei. Eu ainda estou vivo não sei o que se passa após a morte. Existem várias teorias sobre isso, mas não sou testemunha do que acontece após a morte, não sou um fantasma. Às vezes as pessoas querem respostas sobre suas vidas, sobre decisões das mais variadas, relacionamentos, mudanças ou projetos profissionais. Minha reposta é a mesma, “não sei”. Podem acontecer muitas coisas entre a tomada de decisão e seu projeto, como eu posso saber? Não sei.
No Budismo não revelamos profecias, não jogamos cartas, não lemos fundos de xícaras ou os astros, aliás, isso foi proibido por Buda no Parinirvana Sutra. No Zen não existem respostas fáceis. O que o Zen tem para lhe oferecer é um método para a libertação e esse método exige esforço. Temos milhares de anos de experiência para saber que esse método produz ótimos resultados, mas o resultado é mais sabedoria, não mágica ou milagres. Não existe ninguém lá fora para lhe ajudar, não existem santos ou deuses, aqui não há socorro. Por não ter socorro é que podemos nos reunir numa sala pequena como essa, se o Zen oferecesse milagres poderíamos ter um templo com dez mil lugares.