Pergunta: Estou lendo um livro sobre terapia e a autora diz em uma passagem que os budistas chamam um tipo de compaixão de compaixão idiota, seria como uma atitude que evita balançar o barco para poupar os sentimentos da outra pessoa. O contrário seria a compaixão sábia. O senhor poderia falar sobre isso? Existe essa distinção?
Monge Genshō: Bem, estamos falando de um livro sobre terapia então também há alguns cuidados para tomarmos. No mundo moderno o zen e o budismo têm sido alvos de grande interesse filosófico e teórico e muitas pessoas escrevem a respeito do zen, citando conhecimentos que são de segunda mão. Então ouviram algo e então comentam esse algo com a interpretação pessoal que tiverem e nisso existe um perigo de distorções.
Olhando esse trecho que foi apresentado agora podemos dizer que compaixão no sentido de lutar para sacudir outra pessoa para que ela saia do lugar onde está realmente seria errado. Realmente quem tem que fazer esse julgamento é um professor devidamente preparado é um professor que conhece aquela pessoa e sabe quando ela deve ser sacudida e quando isso pode ser perigoso. Até porque não é infrequente, já aconteceu comigo, que uma pessoa não suporte uma repreensão porque sua vaidade e seu orgulho são muito grandes.
Algumas pessoas mesmo recebendo repreensões continuam no caminho, já outras resolvem se afastar do caminho, ou resolvem se afastar do professor porque não querem ser criticadas. Então, enquanto professor você tem que escolher e decidir com grande cuidado quando fazer uma coisa ou outra e isso é particularmente difícil. Normalmente nós podemos dizer que são os alunos adiantados que podem ser sacudidos, com eles você pode ser mais direto e mais severo porque eles têm capacidade de enfrentar a crítica. Mas os alunos novos e iniciantes têm que ser tratados com muito carinho, porque o que eles desejam primeiramente é acolhimento, amorosidade para se sentirem confortáveis para trilhar o caminho. Só quando alguém está mais forte é que realmente pode ser sacudido.
Então, por favor, tomem cuidado com livros com orientações de segunda mão. Quando falamos sobre os livros de D. T. Suzuki eu diria que aos meus olhos, enquanto professor da Soto Zen, a ideia dele do que é kenshô e iluminação parece falsa. Como se fosse um acontecimento repentino e completo, sendo que não é. Nossos textos falam bastante sobre isso, que existem muitos graus de iluminação espiritual e conseguir uma solução completa nessa vida é uma proeza raríssima.
Respostas proferidas por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, dezembro de 2021.