Desenvolver a solidariedade

Desenvolver a solidariedade

Aluno – Eu sei, só quis colocar uma questão minha, uma dificuldade que tenho. Meu projeto é ir tirando a carne, é uma coisa minha…
Monge Gensho – Muitos budistas se dirigem para isso por um sentimento de compaixão ou por responsabilidade planetária, porque setenta por cento do desmatamento é para virar área de pasto. Se a humanidade não comesse carne, sobrava comida amanhã, porque a maior parte dos grãos cultivados vira ração para o gado. Existem os extremos. Existem animais que comem 9 quilos de grãos para a produção de um quilo de carne. Por isso a carne é tão cara. Então, como existe esta tradição nos mosteiros, muitos budistas têm essa tendência de ter uma responsabilidade social sendo vegetariano. Mas o budismo jamais defendeu essa posição como um item necessário, sempre se focou na mente, “um pragmatismo dialético de métodos psicológicos”, como disse Edward Conze. É isso que o budismo é, um método de libertação pessoal, mas não com regras desse tipo com relação ao mundo. Isso tem que ser desenvolvido internamente…
Aluno –  Eu vejo por mim, pois no meu caminho de apenas dois anos no budismo, já vejo a necessidade de mudar meus hábitos alimentares, mas não pela saúde física, e sim pela compaixão. Eu tenho sonhado com bichos, tenho acordado com um sentimento de compaixão, pois nos sonhos eu sou sempre muito amiga dos animais. Então está sendo quase inevitável…
Monge Gensho – Agora, isso é uma mudança cármica, né? Na realidade é uma mudança de carma, a pessoa vai mudando. Em muitos aspectos você pode ser impactado por isso,  nós só estamos aqui nesse tipo de mundo, nos manifestando como seres humanos, porque somos criaturas de desejo, de apegos e profundamente egoístas. Nós somos assim. A solidariedade e a compaixão pelo outro é algo que a gente desenvolve, e se você desenvolver muito terá dificuldade de voltar para esse mundo; como existem muitos mundos, quem sabe você renasce numa terra pura onde a prática seja mais fácil? Essa é uma forma que existe dentro do budismo – “a terra pura”. A terra pura é um lugar onde a bondade é mais freqüente. Renascer num lugar assim não me parece ser um mau objetivo; é um bom objetivo.

Fim

Palestra de Monge Gênsho decupada da gravação por Monge Chudô.