Desejos

Desejos

Pergunta – Ontem o Senhor falou do sofrimento, que ele pode ser uma via que abrevia essa conexão. O desejo também? Por exemplo, um Bodhisattva, ele continua desejando?
Monge Genshô – O desejo é, em si mesmo, sofrimento. Por que quando você deseja, tem dois sofrimentos possíveis: você consegue o que deseja, aí logo a seguir percebe que não é bem aquilo que você queria; e o outro é você desejar mas não conseguir, e aí você sofre porque não conseguiu. Então o desejo aquisitivo em si mesmo é sofrimento. A verdadeira felicidade é assim, mãos abertas, não tem problema, tanto faz. É como a banda (uma banda toca no parque onde se dá a palestra) lá atrás, quando ela pára eu digo, “ agora está mais fácil d´eu falar, e quando ela volta, tenho que falar mais alto”, mas, tem alguma coisa a fazer? Nada. Então não preciso desejar que pare nem que comece, nem nada, simplesmente são as condições de agora, o que temos que fazer é aceitar as condições. Então não há que colocar desejo. O desejo na realidade é um problema.
É claro que existem outras formas de desejo. Em sânscrito há muitas palavras para desejo, por exemplo, o desejo de ajudar os outros, é um bom desejo, mas estamos falando do desejo em que você quer algo para você.
Pergunta – Mestre Dogen diz que quando sentamos em zazen estamos como Buda? É uma associação?
Monge Genshô – Se sentamos em zazen somos Buda. Dogen diz isso, que se você senta para meditar você já é Buda. Isso é verdade, porque se você sair daqui agora, roubar alguém, e sair correndo com a carteira dessa pessoa, os outros correrão atrás de você e dirão: “ladrão, ladrão”, e então você diz: “não, não sou ladrão, apenas estava brincando de ladrão, mas não sou ladrão”. Alguém vai acreditar em você? Não, porque quem faz o que um ladrão faz, é ladrão. Mesmo que ele diga que não sabia de nada sobre o roubo, continua sendo ladrão. Mas, aquele que senta como Buda, está imitando Buda, então o que ele é? Buda! Naquele instante em que vocês estavam sentados aqui, em meditação, vocês eram Budas! É isto.