Desconstruindo fantasias | Monge Genshô

Desconstruindo fantasias | Monge Genshô

(…) temos as nossas vidas construídas em cima de fantasias, de coisas que acreditamos e a que nos agarramos. Geralmente dizem: primeiro você estuda, depois vai se formar e você vai ser uma pessoa de sucesso. Então você vai numa livraria e nota que está cheia de livros sobre sucesso, de como ser vitorioso e etc., o que te faz acreditar que isso vai preencher a sua vida, mas o que acontece com as pessoas que seguem esses caminhos é que encontram mais adiante, depois de todo aquele esforço, um verdadeiro desespero, porque por mais que alcancem coisas nunca é suficiente, tudo parece sempre falho, sem sentido.

Quando um praticante vem para o budismo a primeira coisa que a gente faz, eu mesmo sou culpado por fazer isso, é desconstruir tudo que você sempre se agarrou. Nós vamos retirar essas amarras. Se você sempre se agarrou numa vida eterna, se acreditava que sua alma continuaria depois, dizemos: não tem alma. Se você sempre se agarrou num deus ao qual podia pedir auxílio quando as coisas estivessem ruins, dizemos: não adianta pedir.

Tiramos todos os apoios, todas as bengalas, todos os tapetes. Só quando você estiver completamente sem nada, aí é que você tem condições de descobrir. Evidentemente, neste período no qual você desconstruiu suas crenças e viu que todas elas eram fantasias, surge a sensação de: “estou perdido e nada tem sentido”.

As relações com as outras pessoas também passam por modificações, porque de repente as pessoas com quem você estava acostumado a conviver não compartilham seus pensamentos e sua maneira de ser. Seus amigos saem para jogar cartas, mas aquilo parece absolutamente vazio, uma atividade sem sentido, se ganhou ou perdeu, tudo é vazio de sentido. Então as pessoas dizem “perdi meus amigos, porque não temos mais os mesmos hábitos, parecem desinteressantes agora”, bom, mas existem pessoas muito interessantes dentro da Sangha, pessoas que já passaram por essa experiência e podem lhe auxiliar.(…)

Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Rio do Sul/SC, 2019.