Pergunta: Minha esposa está passando há um tempo por crise de depressão, pânico, ansiedade. A pergunta é se a meditação silenciosa tem algum tipo de contraindicação para esse tipo de problema.
Monge Genshô: Sabemos que a meditação em si muda o cérebro. O cérebro tem certas qualidades plásticas que podem ser alteradas. E o cérebro do praticante de meditação se altera, muda. Agora, as pessoas doentes muitas vezes precisam de ajuda clínica. Hoje temos medicamentos que podem ajudar. As duas coisas se interpenetram, corpo e mente estão ligados. Se você conseguir interferir no corpo e conseguir mudar um pouco as condições cerebrais, que bom, pode ajudar. Conheço uma praticante que sofre de esquizofrenia. Na realidade, ela é perturbada mentalmente de forma muito grave. Se ela ficar sem medicamento, ela tem alucinação. O cérebro dela tem um defeito de funcionamento.
Se você tem um medicamento que consegue interferir nesse defeito, criou-se uma outra condição. E não é porque tem um problema cerebral que a pessoa é diferente de todos nós que temos algum problema físico. Por exemplo, toda a minha família tem pressão alta, meu pai tinha pressão alta, morreu por causa disso; minha mãe tinha pressão alta, não morreu por causa disso pois tomou medicação, viveu até os 97 anos. Então, eu tomo medicação para pressão alta. Se alguém vem e me diz, “eu não queria tomar medicação para o meu cérebro”, eu direi: mas se você tem um defeito funcional em seu cérebro, tem que tomar medicação. Isso vai ajudar e acrescentar à prática. Vamos ser realistas a respeito disso. “Ah, mas eu queria ter um cérebro perfeito, queria que a meditação resolvesse isso”. Mas pode ser que a meditação seja insuficiente para você. Você precisaria atingir um nível muito alto para conseguir superar todo esse problema. Em geral, depressão ainda consegue ser controlada. Mas outras coisas mais graves não. E existem casos de depressão muito graves, bipolaridade, etc., que precisam ser controlados com estabilizantes do humor.
Conheço monges que precisam tomar medicação. E por quê não? A vaidade de dizer “eu tenho um corpo perfeito, um cérebro perfeito”, é só mais uma forma de vaidade. Você pode admitir que tem problemas em seu corpo. Eles têm origem cármica? Não interessa. O que interessa é que nós temos meios para ajudar. Então vamos ajudar. Agora, uma outra consideração, o zazen já é complicado para as pessoas normais. A gente senta a pessoa normal, ela faz zazen, às vezes fica angustiada, às vezes bate em porta sem saída. Vê problemas que antes não via, descobre e sofre com tensões, medos. Então é uma prática em que a pessoa já deve estar bem, porque você vai interferir e pode desequilibrar. Então uma pessoa que esteja doente, tem que ser bem acompanhada. Já tive a experiência de acompanhar uma pessoa como monge, junto com o psiquiatra e conversando com o psiquiatra. “Como ela está?” “está assim. Precisamos fazer isso”. “agora fazemos mais isso e menos daquilo”, junto com o psiquiatra.
Semana passada, fiz uma palestra na Universidade Federal de Santa Catarina com um amigo meu que é um Ph.D. em psicanálise. Foi uma palestra muito interessante. Nós trocamos muitas informações, somos amigos, gostamos muito de conversar um com o outro, ele fez um Ph.D. na Inglaterra, trabalhou quatro anos lá, como psicanalista. Então, essa conversa é muito interessante porque tem abordagens dele com as quais eu entendo mais e posso ajudar melhor as pessoas com elas. “Essa pessoa tem esse problema, mas a origem é assim, assim e tem tal forma de raciocínio. “Ah, entendi”. Isso é muito bom. Para quem trabalha com pessoas, não tem limite naquilo que você precisa aprender para poder ajudar.