Pergunta: Então, no zazen, que eu estou tentando entender, não focamos na respiração ou alguma outra coisa? Poderia me explicar um pouquinho?
Monge Genshô: Você senta em zazen, esvazia seu pulmão, deixa uma respiração natural se instalar, conserva a postura e fica aqui. Sua mente vai querer um objeto qualquer. Cada vez que ela se focar num objeto, volte pra cá. Apenas ouça esse vento. A cada momento ele é novo. Esqueça o vento que já passou. Não espere o vento que vai vir a seguir. Fique com esse vento de agora. Só. Agora, agora, agora…qualquer elaboração mental, retorne pra cá. Não significa “não pensar”. Significa estar aqui, sentado com todos os outros, quieto. Mais nada. Não procure nada, não treine nada, não ambicione nada. Samadhi é realmente ficar aqui, de verdade. É bastante difícil.
Aluno: Mas esse “estar aqui” não está incluída a percepção da respiração, talvez, como estar percebendo o som. Mas aí não estaria então focado no som?
Monge Genshô: Não observe o som. Só ouça o som. Não é para “eu estou aqui ouvindo o som do vento”. Na verdade, você é o vento. O som do vento deve atravessar você. Entrar de um lado e sair do outro, mas sem deixar traços.
Aluno: Assim, você não está atento à experiência do som, ele surge de você?
Monge Genshô: Deixe ele surgir e se manifestar livremente. Passar através de você. Não pense “mais forte, menos forte, vem agora, vai parar, não vai…” Não pense. Não faça isso. Só ouça. Fique aqui ouvindo. Só isso.
Aluno: E no momento que tem uma dorzinha no joelho?
Deixe doer. Aí você se torna, digamos, um com a dor, você não nega a existência do que acontece.
Agora, se ela se tornar muito intensa, se ela incomodar, troque de posição, porque o que vai acontecer é que você vai acabar só pensando nisso, na dor e ficar esperando o sino. “Quando é que vai tocar o sino? Quando é que acaba isso?” E isso não é bom. Então, prefiro que você troque de posição, alguma dor, não é problema. Muita dor é problema. Alguma dor, algum desconforto você vai ter, porque a posição não é natural, e nem ficar parado tanto tempo é natural. Por isso, o corpo reclama.