Zen é ambos. Algo que somos – nossa verdadeira natureza expressando a sí mesma, momento a momento – e algo que fazemos – uma prática disciplinada através da qual tornamos real a alegria de ser. Não é uma crença ou um sistema de crenças ao qual nos convertemos. Não existe um dogma ou doutrina. Zen é a experiência direta do que podemos denominar realidade última, ou o absoluto, ainda assim, não separado do ordinário e do relativo.
Essa experiência direta é nosso direito inato. A prática do Zazen (meditação) é a forma de tornar real a vibrante, não-dual, sutil e interconectada natureza de toda a vida.
Este caminho para a autorrealização nos foi apresentado há mais de 2500 anos atrás pelo príncipe indiano Siddharta Gautama, que veio a ser conhecido como Shakyamuni Buda. Buda simplesmente significa “o desperto”. Seu grande ensinamento é que todos nós podemos despertar; que fundamentalmente, todos somos budas – Budas Judeus, Cristãos, Hindús, Islâmicos, seculares...
Com essa atitude flexível e amável com as várias culturas e crenças encontradas, o Budismo foi abraçado na Ásia. Na China, se mesclou com o Taoísmo e evoluiu no Budismo Chan. A palavra chinesa para meditação, que posteriormente tornou-se “Zen” no Japão. Ao longo das últimas décadas começou a tornar-se parte da cultura ocidental...
Através de uma prática dedicada e consistente de meditação, podemos perceber que o self e o outro são um, que o condicionado e o não-condicionado são simultâneos, que o absoluto e o relativo são idênticos. Dessa percepção fluem uma compaixão e sabedoria naturais, uma resposta pacífica e intuitivamente adequada de encontro a qualquer circunstância que surja. Não fazemos grande estardalhaço sobre isso; nem sequer chamamos isso religião. Quando o Dalai Lama foi perguntado sobre o Budismo, simplesmente respondeu “minha religião é a gentileza”.
O que é Zen? Pare de tentar limitar intelectualmente algo que é vasto e sem limites, muito além do que a mente racional é capaz de absorver. Apenas respire em total consciência. Usufrua da respiração. Aprecie-a completamente. Agora exale, lentamente com a mesma apreciação. Deixe tudo para lá; não se apegue a nada. Respire com gratidão, respire com amor. Recebendo e oferecendo – isso é que estamos fazendo a cada momento que inalamos e exalamos. Fazer isso com consciência, regularmente, é a prática transformativa que chamamos Zen.
Essa prática simples e ainda assim profunda, pode nos liberar das amarras do passado e do futuro, assim como das barreiras aprisionadoras autoimpostas que erigimos em volta daquilo que erroneamente consideramos nossa identidade separada e imutável.
Quando olhamos profundamente sobre o que realmente somos, isso se torna um “Koan” : “O que sou eu?” Descobrimos que as visões condicionadas e traços compulsivos que denominamos “eu” não possui substância fixa.
Podemos através de consistente Zazen, nos liberar desse “self” impostor e descobrir um verdadeiro ser – o Ser que é aberto, confiante e livre de impedimentos, fluindo com tudo que existe nesse momento. Portanto naturalmente cuidamos do ambiente, começando por nossas próprias ações. Não desperdiçamos recursos da terra, percebendo que cada ato tem consequências. E de forma natural, estendemos essa Mente; fazemos voto de viver com atenção, integridade, autenticidade; fazemos voto de liberar todos os seres do sofrimento.
Shinge Roshi
- A prática do Zen é o processo de aprender e vivenciar a própria vida de acordo com os ensinamentos de Buda e Dogen.
- Estar desperto e consciente, cultivando as qualidades humanas de compaixão e sabedoria.
- O Zen se diferencia de outras formas de prática Budista pela ênfase na meditação ou Zazen.
- Embora existam milhares de livros sobre Zen e Budismo, a prática não requer a leitura.
- A experiência direta da realidade e a vida de acordo com ela está disponível a todos nós a cada momento.