Eles não morrem
Não, as pessoas não morrem.
Os olhos fechados, o riso mudo, o peito inerte não existem.
Se você fechar os olhos e aguçar os sentidos vai ver o brilho nos olhos, o som do riso e da voz, sentir o calor da pele.
Feche os olhos, pegue a chave da sensibilidade e abra a porta da memória. Está tudo ali. Aninhadas e silenciosas,
as memórias são aves pacientes à espera de um gesto para a revoada.
Feito o convite, sobem em bandos. Ressuscitam lembranças, revivem caminhos, abrem sorrisos, liberam lágrimas.
Trazem, em suas asas eternas, lembranças pesadas como rochas e diáfanos sonhos encasulados em frágeis e inconclusos desejos.
Essas realidades não são percebidas e armazenadas por todos da mesma forma. Para alguns, vão se materializando aos poucos em duras lições de muitas despedidas. Último sorriso da mãe, a voz do pai, o gesto do avô, a alegria do irmão. Essas lembranças de imorredoura névoa eterna que se fundem no bronze da memória. E ali permanecem, compondo a rede de nossa vida, tramas de alegrias e tristezas que herdamos desses queridos personagens.
Dizer que morreram é negar nossa própria capacidade de revê-los.
Meu filho partiu há anos, mas o revejo sempre que o quero perto de mim. Na idade que desejo, com o sorriso que escolho, com gestos e atitudes que satisfazem – mesmo que por instantes – a imensa saudade que trago comigo.
Ele está vivo dentro de mim e só morrerá quando eu me for também.
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(Ivo é meu amigo há 50 anos, e perdeu um filho já adulto, o mais velho deles, é um escritor extraordinário como podem ver acima. É editor do jornal Vida Integral há décadas.)