Pergunta – O que o Budismo fala sobre monogamia?
Monge Genshô – No Budismo não há uma posição definida a esse respeito. As sociedades se organizam de acordo com as conveniências. Em civilizações mais antigas esse tipo de relacionamento não está bem definido ou está, dependendo do ponto de vista, inclusive os filhos são da tribo. Não existe o sentido de posse como em nossa civilização, por isso mesmo uma traição não é vista da mesma forma.
Em sociedades agrárias, por volta de dez mil anos atrás, as pessoas começam a ser donas de pequenas propriedades de terra e desejam que isso siga na família passando para os seus filhos. Começa, então, a se exigir fidelidade por parte da mulher. Em algumas sociedades de hoje existe a pena de apedrejamento para mulheres adúlteras. Mas não para os homens, por quê? Porque quem adultera a linhagem é a mulher, não o homem. Em sociedades judaicas é considerado judeu o filho de um ventre judeu, portanto de uma mulher, não de um homem.
Em algumas sociedades da Ásia ou mesmo no Tibete, o homem tem que comprar a esposa, ela é um bem vendido pela família. As vezes acontece de uma família pobre com dois ou três irmãos, não ter dinheiro para cada um comprar sua mulher. Os três compram uma única mulher que fica então, com três maridos, a poliandria. Em nenhuma destas situações o budismo jamais se meteu. E em sociedades budistas jamais houve apedrejamentos ou algo do tipo. Isso que estamos falando é puramente cultural.
Veja como são essas coisas, hoje vi na internet um concurso de mulatas, todas de biquíni, muito bonitas, e muitos comentários criticando essa exploração da imagem das mulheres como objetos sexuais etc.. O que existe por trás disso na realidade é um pensamento discriminativo, porque rostos bonitos podem ser expostos sem que haja protestos e outras partes como seios ou glúteos não. É só outra parte do corpo, isso é cultural e está na mente das pessoas. Nós enxergamos problemas onde na verdade eles não existem. Hoje no Brasil não vivemos mais no sistema de monogamia. Temos na verdade um sistema de poligamia serial. O que é isso? As pessoas trocam constantemente de relacionamentos, parece que mais de 50% das pessoas trocam de relacionamentos.
Pergunta – Sobre o naturismo o Budismo segue a mesma linha de pensamento?
Monge Genshô – Claro, se todas as pessoas resolverem andar sem roupas e isso é aceito, não há problemas. Começa a haver conflito quando na sociedade a que você pertence isso seja um problema e você resolva andar nu. Eu morei um tempo na Holanda, que é considerada uma das culturas mais liberais do mundo. E lá, há trinta anos, era possível uma prostituta ser convidada para ir à um canal de televisão e, sem precisar tapar o rosto, falar sobre sua vida. Na Tailândia, por exemplo, o homossexualidade sempre foi muito bem aceita. Existe um caso de um transexual que depois de anos voltou para sua cidade e se elegeu prefeito. A Tailândia é um país budista.
Existe uma história Zen contada por Taisen Deshimaru Roshi, de Naraka Gueixa que era praticante budista que obteve a iluminação e começou a ensinar o Dharma para seus amantes em sua cama. E teve muitos discípulos. Era uma grande mestra. O budismo tem uma visão um pouco diferente do que estamos acostumados a ver em nossa sociedade.
Há um diálogo muito interessante que aconteceu durante uma palestra do Dalai Lama. Um jovem perguntou à ele qual a forma de sexo que produz menor carma negativo. “Acredito que seja com uma prostituta”, respondeu Dalai Lama. Percebendo a consternação do jovem, o Dalai Lama continuou: “Essa pode ser uma relação muito construtiva se você a tratar com respeito e dignidade e lhe der carinho. Ela pode ser uma pessoa que necessite de dinheiro, mas pode ser uma troca muito bonita que gere uma amizade e ser compensadora para ambos os lados”. ( Ele desconsiderou outras formas da manifestação da prostituição, indústria, exploração etc…) O rapaz então perguntou, “E masturbação”? “Masturbação é um ato muito egoísta, é você com você mesmo, não está ajudando ninguém”.