Coração e razão

Coração e razão

Aluno – Por isso que eu penso que quando a gente vai tomar uma decisão, tem que estar muito seguro, muito certo sobre o que vai decidir.
Monge Genshô – E como estar certo? Você não sabe. Você só sabe depois. E mesmo assim, é um saber suposto, porque você não sabe realmente como seria se você não tivesse tomado a decisão. Temos uns amigos que estão tentando migrar para a Austrália, estamos observando o que pode acontecer; talvez eles consigam. A grande diferença será para seus filhos pequenos, eles sofrerão, não é fácil fazer isso. Nossos antepassados fizeram; gente muito corajosa.
Aluno – Mas fizeram por causa da situação…
Monge Genshô – Sim, a situação  estava insuportável. Eu conheci um monge Zen que era dentista no Brasil e foi para o Japão, depois de dez anos voltou ao Brasil e tentou se estabelecer novamente no país. Ele disse que quando era monge no Japão não precisava pensar em nada, porque a instituição estava toda organizada, não precisava se preocupar com a conta da luz, da água, com nada. No Brasil, tinha que arrumar dinheiro para morar, comer, pagar água, luz. “Não agüento mais, como vou viver no Brasil?” perguntou-se ele. O resultado é que retornou ao Japão. Era impossível para ele viver no Brasil, ele havia se tornado monge da instituição. Aqui é diferente, pois somos monges que temos que trabalhar, é muito mais difícil ser monge, nessa situação. Talvez em algumas décadas seja diferente, talvez tenhamos nossa instituição, o monastério. Talvez haja, no futuro, a possibilidade de morar no monastério, de só realizar algumas tarefas, como, por exemplo, quem for morar no templo irá trabalhar na cozinha. 
Pergunta – Existe um ditado que diz que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Isso significa que a razão é mais forte do que o coração? Ou às vezes isso é invertido?
Monge Gesnhô – Observando seres humanos ao longo da vida, tenho constatado que o coração é mais forte que a razão. É raro que a razão esteja acima.
A essência do que estamos falando talvez seja, “nós temos a capacidade de mudar nosso carma?” Temos, mas não é fácil, precisa haver grande empenho e esforço. Ocorre, ao se tomar uma decisão, do carma mudar muito. Quando aceitei ser monge, isso mudou muito minha vida. Não mudou inteiramente, mas mudou um aspecto: me deu um ideal. Se não fosse isso, eu estaria simplesmente trabalhando e tentando ganhar dinheiro. Talvez sentisse que a vida fosse vazia, porque a gente precisa ter ideais para sentir a vida mais plena.