“No budismo não falamos em salvar e sim em libertar. Libertar os seres de seus sofrimentos, de suas angústias, de sua falta de compreensão sobre quem realmente são, libertar os seres da ilusão de serem separados, de serem seres individuais, de terem uma individualidade permanente.
Por isso falamos em libertar e não falamos em salvar os seres de uma condenação eterna. Não achamos que alguém está condenado por não estar ligado ao budismo, não achamos que devemos impor nossa maneira de pensar a outras pessoas, achamos que todos devem ser livres para fazer suas escolhas e que há um tempo imensurável para que se encontre a verdade da não existência de um eu sólido.
Não achamos que temos que converter, nem achamos que temos que ser proselitistas, nem sequer criamos algum ritual que signifique a conversão ao budismo. Em especial no zen ficamos com nossa prática e deixamos que quem queira venha e a procure. Apenas dizemos que ela existe.
Não fazemos força para manter as pessoas dentro do budismo, pois elas devem ser livres para ir aonde desejarem. Nossa ótica é completamente diferente.
Em toda a história do budismo não houve guerras de conversão, não houve guerras criadas pelo budismo em si para espalhá-lo ou conquistar povos e países.
Quando o budismo encontrou outras culturas mesclou-se a elas, não tratou de eliminá-las ou de negar todos os seus mitos. Toda essa perspectiva, se fosse adotada por toda a humanidade, a teria mudado imensamente.
Como se diz: o budismo tem uma tolerância que beira a indiferença, mas ela significa exatamente o respeito pela liberdade de todos os povos, culturas e pessoas.
Nossa verdadeira ambição é diminuir os sofrimentos no mundo, mas se somos incapazes de diminuí-los os aceitamos, sabendo que mesmo a humanidade, a Terra, tudo é impermanente.
Sabemos que há continuidade e que as coisas nunca cessam completamente, porque tudo só se transforma em outras formas, outras existências, e que o universo é cíclico, que nossas vidas são cíclicas.
Percebendo tudo isso perseguimos apenas uma única coisa: libertarmo-nos. Estar livres das concepções, das mentes e dos olhos que criam o sofrimento.
Queremos tirar nossos olhos comuns e substituí-los pelos olhos de Buddha e assim vermos o mundo que Buddha é capaz de ver. Liberto.
Tudo que parece samsara, tudo que parece sofrimento e perambulação transforma-se em nirvana. Paz e felicidade sem paixões negativas.
Por isso sentamos para transformar nossas mentes que veem o samsara em mentes que veem o nirvana e, assim, este mundo onde estamos transforma-se em nirvana em um único instante.”
Texto do Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, julho a agosto, 2020.