Monge Kōmyō
O Caminho do Meio
O ensinamento de Buddha, em suas escolas tradicionais, dá grande valor ao exercício da moderação. É o “Caminho do Meio”, a prática de interconexão com o mundo fundamentada em forte atenção, correção, cuidado.
O caminho do centro tem como base oito aspectos práticos. Este “caminho óctuplo” não é complicado de explicar. Os oito aspectos (fala, pensamento, ação; esforço, concentração, percepção; modo de vida, discernimento) não são complexos em sua natureza.
Os termos pertencem ao nosso universo de potencialidades, não existe nada místico neles.
De fato, eles iniciam e se fundamentam em três elementos sem os quais nenhum ser humano poderia interagir consigo mesmo e com toda a existência: ações, palavras (ou meios de expressão) e pensamentos. Eis tudo.
Nenhum poder sobrenatural, nenhuma espiritualidade extravagante.
Apenas agir, expressar e refletir com maturidade de consciência e clareza de interpretação ao lidar com as diversidades na vida.
Mas, infelizmente, o obstáculo para o exercício do Caminho do Meio está na própria mente. Mesmo que você pense ter entendido o sentido do que acabei de escrever, mesmo que tenha convicção de que já realizou essas coisas, é muito provável que você esteja enganado.
Não estou dizendo que você não teria capacidade de realizar o caminho. De fato, todos nós sem exceção podemos fazer isso.
Mas o simples fato de alguém achar que já está imbuído da harmonia, demonstra sua falta de moderação. Entende?
O caminho do meio nunca termina, não há fim para a prática dos oito aspectos da mente correta. Não estamos em equilíbrio; estamos (e precisamos) sempre estar em constante pratica da composição de nossas partes. A mente é uma dinâmica.
Além disso, e mais importante, a moderação nos torna estranhos. A mente passional, essa mente egoísta cheia de paixões, opiniões, escolhas, conflitos, sempre está buscando um lado. O meio não pertence a qualquer lado; é apenas o ponto de equilíbrio, em torno do qual todos os extremos transitam.
Em nossa sociedade, ser moderado é sinal de fraqueza. E mais do que isso, advogar o meio do caminho nos faz menos relevantes para as partes.
Mas o fato é que será apenas através dos homens e mulheres conscientes, moderados, que a humanidade poderá evitar o abismo que a ameaça cada vez mais.
Thich Nhat Hanh, o grande mestre do zen vietnamita, quando jovem se esforçou muito para dialogar com americanos e vietcongs na guerra do Vietnam.
Ele diz que procurou compassivamente demonstrar que todas as partes deveriam encontrar um denominador comum, e não defender apenas os seus pontos de vista.
Como resultado, para os americanos ele era visto como “agente comunista”, para o Vietcong ele era “espião da CIA”.
Assim é para a prática do meio. Se praticamos a moderação, precisamos estar prontos para lidar com a estranheza dos extremos.
O Caminho do Meio exige paciência, e coragem. Assim — apesar de minhas muitas faltas — eu procuro praticar.
E nos acontecimentos que nos dividem atualmente em nosso país, me esforço sempre para compreender todos os lados, sem ódio ou desprezo.
Em nome do Dharma,
Monge Kōmyō