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Quando estivermos submetidos às pressões normais que a vida parece nos impor dentro dos jogos, nós devemos pensar eu posso dar conta disso? É possível? É possível fazer esta coisa ou não? Está fora do meu alcance ou das minhas capacidades, não preciso me comprometer a fazer isso. Não preciso aceitar pressões para coisas para as quais eu não sou capaz. E ninguém é capaz para tudo. Algumas pessoas são maravilhosas em uma determinada atividade, mas incompetentes em outras. E todos nós somos assim. Todos. O que você vai fazer?
Entrar nas olimpíadas, ser um corredor e se propor a entrar na prova de natação? Não. Você vai entrar só na prova para qual você se sente capacitado não nas outras. Às vezes, o seu próprio corpo vai lhe impedir de fazer uma determinada atividade. Um lançador de peso não é um ginasta de ginástica artística. O próprio corpo impede isso. Nós estamos capacitados para algumas coisas e para outras não. Só devemos aceitar os desafios para os quais nos sentimos capazes e os outros nós temos que ter a coragem de dizer: não, esse desafio não é para mim. Ou não, eu não aceito essa pressão por que essa pressão está me exigindo uma coisa para qual não estou capacitado. E procurar a eficiência naquilo para o que temos talento. Normalmente todas as pessoas têm alguma coisa para a qual estão capacitadas e têm talento. E elas devem procurar exercer as atividades onde esses talentos são necessários.
Nós devemos ter lucidez a respeito disso, das pressões. Grande parte das infelicidades causadas no mundo moderno é pôr as pessoas se sentirem forçadas a aceitar algum modelo que alguém lhes impôs. Você tem que fazer tal curso, você tem que ter tal diploma, você tem que fazer isto ou aquilo que alguém lhe impôs. Até os monges são desafiados desta forma. Quando você é enviado para um mosteiro parece muita coisa, mas você tem que pensar que pode desistir. Eu posso até sair do mosteiro entregar meu manto e não ser mais monge. No Zen não tem problema nenhum, você pode fazer isso a qualquer instante. A decisão é sua. Você não precisa pensar que aquele é o único jogo possível, porque existem outras atividades igualmente meritórias. E nós podemos testar e experimentar a nós mesmos em todas as coisas para as quais somos capazes. E depois tomarmos a decisão do que vamos fazer a seguir. Aliás, não precisamos ter nenhuma carreira na vida que seja definitiva. Nós podemos ter várias.
Ao longo de 60 anos de atividade, eu exerci pelo menos três carreiras diferentes. E isso parece muito interessante, um acréscimo. Um crescimento, experiências. Mais vidas. Mais vidas condensadas em uma única vida. Não foi desvantajoso, mas a cada momento da vida era outra coisa que me chamava e que me interessava e era possível abandonar tudo e começar de novo de uma outra forma. Então quando nós enfrentarmos as pressões da vida devemos perguntar o que eu realmente quero também? O que eu acho que é possível para que eu tenha talento? E para o que, principalmente, eu vou dizer não. Isso não é para mim.
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Resposta proferida por Genshō Rōshi na live nº81, do canal Sobre Budismo, durante o ano de 2022.