[CONTINUAÇÃO]
E uma outra coisa que pode ajudar muito bem você a se disciplinar é escrever um diário. Todos os dias, sentar-se e dizer a si mesmo: como foi esse dia? Desperdicei esse dia ou não? Pode ser que eu tenha visões muito estreitas das coisas. Para encerrar isso que estou tentando dizer eu vou citar uma história célebre.
Em 1789, aconteceu na França a Revolução Francesa que acabou derrubando a monarquia e mergulhou em um período de terror. Foi uma coisa trágica e acabou redundando numa nova reorganização, num consulado, e acabou caindo nas mãos de um imperador: Napoleão Bonaparte. Isso foi num prazo muito pequeno. Foram muito poucos anos que produziram todos esses cataclismos que não mudaram só a história da França, mas mudaram a história do mundo ocidental inteiro. Mas havia um rei naquele momento, Luís XVI, descendente direto de Luís XIV, o Rei-sol, que havia construído Versalhes. Luís XVI havia se casado com uma princesa de uma família austríaca, Maria Antonieta, e ele tinha um diário. Mas a sua percepção das coisas era tal que naquele dia da queda da Bastilha em que começou a Revolução Francesa e que acabou levando ele e a sua mulher e seu filho à morte, ele escreveu uma coisa muito interessante. Ele e a sua esposa terminaram na guilhotina e o seu filho morreu por perseguição e crueldade dos tutores nomeados pela Revolução Francesa. Pois Luís XVI naquele dia escreveu no seu diário uma única palavra ‘rien’, que em francês quer dizer: ‘nada’. Nada. Especulamos que não lhe pareceu que havia nada de relevante para anotar no seu diário naquele dia. Nada havia acontecido. Você sempre pode evitar ter uma visão estreita das coisas e investigar realmente o que está acontecendo não só no mundo em volta mas dentro de você.
Gasshō!
Monge Butsukei: O Armando perguntou: boa noite Sensei, como gerenciar minha vida em relação a amizades tóxicas que o tempo todo nos depreciam? Eu devo me afastar ou tentar conviver?
Genshō Rōshi: Ora, nós só devemos tentar conviver com pessoas a quem temos o poder e a capacidade de influenciar. Se essas pessoas são tóxicas, e você sabe disso, não sei porque você considera continuar uma amizade se você não pode mudar os rumos, algo que intoxica ou prejudica você. Evidentemente deve ser evitado.
Monge Butsukei: Como lidar com o roubo?
Genshō Rōshi: Bem, (risos) depende muito de que roubo é, não é? Se por acaso lhe roubarem uma coisa muito insignificante, talvez você não deva fazer coisa alguma. Mas se for algo que o prejudica, você tem que interferir na sociedade para que essa conduta não se espalhe. É necessário combater as condutas que prejudicam os outros e para isso existem mecanismos sociais já bem estabelecidos.
Nós devemos protestar, registrar ocorrências e, às vezes, processar. Depende do volume do que acontece e se, por acaso, somos roubados pelo Estado, também devemos protestar e não tolerar isso e muito menos eleger pessoas que estejam vinculadas a condutas reprováveis. E isso não importa em que partido, de que influência política estamos falando, mas sim de um princípio generalizado. A nação deve ser intolerante com as condutas que roubam os recursos públicos para proveito de um grupo ou de uma pessoa.
Monge Butsukei: É possível acabar com o diálogo mental ou apenas mudamos o conteúdo do diálogo?
Genshō Rōshi: É possível acabar sim, mas para isso você precisa em primeiro lugar começar a praticar meditação. A prática do zazen pode ajudar muito a acalmar uma mente agitada.
Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como gerenciar a vida com sabedoria”, do canal Sobre Budismo, durante o ano de 2022.