Certo e Errado | Monge Genshô

Certo e Errado | Monge Genshô

Escrevi um artigo uma vez, dizendo que as pessoas mais perigosas do mundo são a que sabem o que é certo para os outros. Eles vão lá e decidem, “olha, o certo é que não vai ter mais nenhum pobre nessa sala, nós vamos somar o dinheiro de todo mundo e vamos dividir igual entre todos, e nós vamos ter harmonia financeira porque as pessoas vão ter os mesmos bens e riquezas”. Só que tem alguns que não vão gostar, mas com eu estou certo e eles não gostam vou ter que resolver isso de alguma forma, então decido prender essas pessoas que não concordam comigo, para que eu possa continuar executando meu projeto.

Essa é a história da tentativa de instalar o bem nas sociedades humanas, aqueles que sabem o que é certo querem impor o seu certo sobre os outros e só resta um recurso no fim: a violência. No fim o que você tem é um grande mal. Então, essas pessoas que sabem o que é certo são perigosas. Não importa de qual ideologia são, pode ser uma ideologia religiosa, cheia de bondade, mas ela pode resultar em imenso mal porque para ser imposta, você vai ter que calar as bocas, calar as consciências, proibir livros, censurar, as pessoas que não poderão falar mais da maneira que tinham liberdade de falar antes. E o que nós vimos é que o primeiro sacrificado no altar do idealismo é justamente a liberdade e no fim estas sociedades se tornam mais pobres e mais injustas com um grupo reunindo poder e riqueza na sua mão e mantendo todos os outros subordinados e esmagados. Esta é a tradição da humanidade, então essas ideias de “estou certo”, “vou me impor”, são extremamente perigosas.

O livro O Pico da Montanha tem um capítulo sobre certo e errado e nesse capítulo eu explico, no Zen você não pode postular que uma coisa é certa ou errada. Nem essa afirmação você pode postular, a própria afirmação de que não existe certo e nem errado, também não pode ser postulada. Então, não devemos acreditar no certo ou no errado, no bem contra o mal, no justo contra o injusto, na igualdade contra a liberdade, não adianta levantar essas bandeiras, porque toda virtude está no caminho médio e não no caminho extremo.

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]